Para Juliana Rafaela
Fiz como ela; fui a cozinha tomar uma xícara de café (me referido a um trecho de uma crônica de Clarice Lispector), pois a toda hora me vejo preso ao computador ou aos pincéis diante do quadro de Macapá antiga que estou pintando –um tema sobre as Docas- Extraio um tempo do pouco que tenho e olho as estrelas. A Lagoa dos Índios é sempre mais bonita à noite. Hoje é segunda e parece despertar na cidade uma agonia e uma preguiça. Homens e mulheres passeiam olhando este rio pintado de varias cores barrentas. Minha filha, uma menina nos seus dezesseis anos me pergunta – pois eu havia feito um comentário no dia anterior, que este teria sido o dia mais feliz da minha vida – olhando em meus olhos _ Pai, se ontem foi o dia mais feliz de sua vida e como foi o dia do nosso nascimento, foi triste? Fiquei pensativo tentando achar uma resposta que não me colocasse em contradição. Pensei, analisei os prós e os contras e como um caracol me acabrunhei na concha de pai.
Os filhos são um presente das estrelas, sou feliz porque tenho um céu em minha casa; cada uma com a sua magnitude, com brilho incandescente que muitas vezes me ofuscam deixando meus olhos sem poder ver o horizonte. E tem mais duas estrelinhas que vagam de um lado para o outro como cometas de rara beleza – meus netos - assim, esse céu povoado de interrogações vou traçando figuras. O compromisso que assumimos quando constituímos uma família, quando decidimos ter completado nossos corações é de extrema maturidade. Aqui não condeno quem abandona ou resolve produzir independentemente do outro, isto para mim são questões pessoais. Mas, rejeito quem mata, tortura, abandona uma criança com o intuito de ferir o outro. Este nunca amou ou foi amado. Posso amar calado, posso calado amar, em qualquer sentido desta ordem; posso também amar dentro de minha tristeza, posso amar – compreendam – dentro de meu mau humor – posso porque sou diferente. Sou como o sol neste céu que aquece e ilumina, que afugenta a dor do outro, que seduz com os primeiros raios e adormece a tristeza após o final da tarde. Mas, mesmo que pareça o fim, está do outro lado iluminando o mais oculto liame do Ser.
A reclusão ao casulo embora possa parecer ao leitor uma eternidade, não foi. Rasgou o céu como um raio sem alarde de luz ou som de trovão. A xícara de café foi só o pretexto; vamos voltar a cena de então – penso invariavelmente na resposta – qual seria a melhor alternativa? “Penso, se penso logo existo” se existo, tenho a resposta, só não sei se vai satisfazer a todos; quanto a minha filha o sorriso bastou para agradar meu coração. _ Sim ontem DIA DOS PAIS foi o dia mais feliz da minha vida, porém que seria da minha felicidade se anteriormente eu não tivesse sido feliz com o nascimento de meus filhos; pois só eles poderiam proporcionar tanta felicidade – concluo – um dia feliz é sempre o resultado da soma de outros dias felizes.