A SAUDADE BATEU EM RETIRADA
Depois de um voo muito tranquilo, em que aproveitei as longas horas, para reler o livro: Médico de homens e de almas.
Da autora: Taylor Caldwell.
São 670 paginas, de uma escrita perfeita, onde a vida de Lucano, é ricamente descrita nos seus mínimos detalhes.
Um livro que eu, já havia lido por duas vezes, e durante o voo, consegui chegar à pagina 337.
Pensei: se a Taylor levou 46 anos para escrever esse livro, não posso pretender lê-lo em nove horas.
Não durmo quase nada dentro de avião, mas, acho ótimo, pois assisto um filme, ou leio um bom livro. Duas coisas que adoro fazer.
Me emocionei até as lágrimas, com o livro da Caldwell, sobre esse grande ser humano que foi Lucas, o Apóstolo que nunca esteve com Jesus.
Fiquei refletindo, como realmente é visível o avanço moral e intelectual de alguns seres humanos sobre outros.
O avião pousou na hora certa.
Ao sair do aeroporto o frio nos aguardava, as seis e meia da manhã, ainda estava escuro em Nova Yorque. Os termômetros marcavam, menos um grau.
Ai que frio !!! Mas, não reclamei, curto o frio.
Gosto mais ainda de estar na cidade que faz tempo virou o lar do meu filho. Aprendi por isso a apreciá-la com olhos especiais.
De longe avistamos nosso filho, que veio nos buscar.
Logo nossos braços se entrelaçavam em abraços apertados e demorados.
Nessa hora a saudade abobalhada bateu em retirada.
Enquanto o carro rodava pelas avenidas, meu olhar apreciava a paisagem de árvores nuas, que pareciam envergonhadas, por se acharem despidas.
Um vento manso, passava sem graça por elas, pois não encontrava folhas para balançar.
Dentro do veículo, eu, esperava o sinal abrir.
Via os transeuntes que passavam na faixa permitida, todos bem agasalhados.
Pensava comigo mesma que, todos que se encontravam nas ruas a essa hora da manhã, com tamanho frio, só estavam porque precisavam ir lavorar.
Nada passava despercebido ao meu olhar atento, ou quase nada.
Minha atenção se concentrou, em um senhor que atravessava na frente do carro, vestia um grosso sobretudo escuro, em volta do pescoço, um cachecol cinza, nos pés botas próprias para o frio, na cabeça uma boina preta, na mão uma mala de trabalho.
Ia apressado, mas passando rente a janela do nosso carro, olhou direto para o meu olhar insistente, que tentava ler-lhe a alma.
Um hábito que trago da infância, o de imaginar o que as pessoas, mesmo as que nunca vi antes, estão pensando.
Olhou-me intrigado, parece que sentiu a minha curiosidade inocente, querendo assaltar-lhe os pensamentos.
Isso durou algumas frações de segundo, ele se foi a passos largos, e nosso carro partiu, atendendo ao sinal que abriu.
Não demorou e estávamos os quatro reunidos em volta da mesa, tomando um delicioso café da manhã.
Lembrei de Santos Dumont, e agradeci a ele. Graças a sua genialidade, em pouco mais de nove horas pude sair da America do Sul, e chegar à America do Norte.
E assim, mandei pra bem longe a danada da saudade. Ao menos por um tempo...
(Foto da Autora)