Felicidade através da Janela

Quase trinta anos de casamento haviam se passado, e a felicidade lhe parecia estar sempre do lado de fora dos muros da própria casa. Era lá que ela sempre se empenhava em buscar a solução para todos os problemas; reencontrar a liberdade, fora daquele pequeno espaço de cela, dentro daquela sua “prisão”.

Tudo piorou no mês de agosto seguinte, quando as contas chegaram. Só do plano de saúde teria que pagar quientos e quinze reais, sem contar os diversos cartões de crédito, estudo dos filhos, e despesas extras de todo tipo, que totalizavam exatos dois mil, quatrocentos e noventa e três reais e oitenta e sete centavos.

Sua única saída seria contrair uma dívida para pagar a outra; como quem cava para construir um morro e não se dá conta de que, ao mesmo tempo, afunda no próprio buraco.

Não tinha outra escolha; precisava voltar a trabalhar. Talvez ai encontrasse a liberdade, e a sua grande chance para ser feliz.

Pouco tempo depois, já era funcionária pública contratada, razoavelmente bem remunerada, mas a felicidade ainda parecia estar através da janela, do lado de fora da sua sala de trabalho. Só ai se deu conta de que o endereço era outro, mas a cela era a mesma daquele seu início de jornada.

Por um segundo; apenas por um segundo, se permitiu pensar que, talvez toda a sua vida estivesse olhando na direção errada e agora, quem sabe, devesse se voltar para dentro de si mesma...

"Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta. Encontrar este caminho é um livro, que poucos sabem ler."(Carl Gustav Jung)