BULA COMIGO... Depois baila.
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Por Carlos Sena
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Por Carlos Sena
Não queira me conhecer como remédio que se conhece pela bula. Bula comigo que é melhor. Buline que não tem problema. O maior problema da vida é a falta de bulinação consentida. Permitir-se às bulinações é reinar na imaginação, qual criança quando reina no mundo dos brinquedos em busca de construir suas ilusões. Por isto, qualquer desatenção, faça sim, que não será a gota d’água. Já te dei meu corpo? Minha alegria? Então por que temer o que se foi se tu nem sabes o que seria?
No dia em que me bulinares com a vida, verás que a vida é ávida e é doida e varrida e não há nada certinho nela. O certinho da vida é ilusão nossa construída para dominação machista dos homens sobre as mulheres. “Se acaso me quiseres, sou dessas mulheres que só dizem sim” – e a mulher, com seu dom de iludir faz o homem pensar que é “não” sendo sim. Quando ele pensa que “sim” é “talvez”...
Se de todo você quiser me conhecer como remédio, esqueça a bula. Vá bebendo, ou tomando, ou deglutindo devagarzinho até que algum efeito se pronuncie. Na pronuncia do efeito, fique em pé que eu te deito, porque as questões humanas foram feitas pra resolver na cama. Na cama a gente se faz, se refaz e faz o mundo se povoar. Por isto se bula e me burle até o dia clarear. Por isto se enrosque no peito que te serve de abrigo e sintas que não corres perigo. Perigosa é a rua, sinuosa é a ausência tua!
Remédio para ser é a negação disto. Não ser é a melhor proposta. Proposta alopata para contrariar a homeopatia da falsa moral que mata a gente no varejo e que, por debaixo dos panos, a certeza vira engano, o engano vira o crente em ateu e o ateu fica à toa – toada desafinada que se esconde no edredom da vida e que prenuncia a partida sem funeral... Por isto, não bula comigo não. Ou bula sabendo o que vai bulir, porque “tudo era apenas uma brincadeira e foi crescendo, crescendo, me absorvendo”... E de repente eu nunca fui completamente teu. Se ninguém é de ninguém e na vida tudo passa, bulir comigo me agrada, já que tudo passa... Passa a mão, passa o pé, passa a língua, passa o dedo, passa. Só não passa o coração.