Linduarte Noronha em Roma de Fellini

 
       A natureza nos impõe também coisas desagradáveis, dentre essas a de adoecer nosso Linduarte. Contudo, como nos bons filmes, podemos contornar essas tristezas, prolongarmos o enredo e, com outras conjecturas, imaginações, transformarmos tudo num desejado “happy end”.  Dias atrás, liguei para Luzia, amada companheira de Linduarte, para marcar com o nosso histórico cineasta uma entrevista ao Talentum; ela apenas me aconselhou esperar outra oportunidade para Manuel Jaime, Astênio e eu almoçarmos com Linduarte. Insisti ser em qualquer restaurante, ao livre gosto de um frugal ou dietético cardápio, mas ela voltou a pedir que adiasse a entrevista. Percebi então estar Linduarte a emendar fotogramas do filme da vida. Recorri ao amigo Carlos Aranha que me confirmou estar nosso Linduarte hospitalizado. Resignei-me à espera, aliás, Linduarte nunca teve pressa para nada; sempre se comportou, sem correrias, como na mansidão da sua morada.
 
       Vivi inesquecíveis dias com Linduarte, 1967, quando dividi com o maestro Rino Visani , então integrante da Orquestra Sinfônica de Roma, o prazer de hospedá-lo. Linduarte se mostrou avesso a perambular pela vetusta cidade, ele nunca foi muito de andar a pé; ao rodar seus filmes, sempre amou a cadeira de Diretor. Otinaldo Lourenço sempre me pergunta: “- E Linduarte em Roma?” Então, repito-lhe a justificativa de quem preferiu um bom papo com os amigos e o cachimbo a andar, como todo passageiro, pelos pontos turísticos: “Todas as cidades são iguais.” Mas, consegui mostrar a Linduarte “Roma de Fellini”, também levando-o a Cinecittà. Surpreendendo-o com os cineclubes romanos, encontramos informações completas como as do livro de Wills Leal sobre “Cinema na Paraíba, Cinema da Paraíba”. Surpresa maior, no Cine-clube do “Pontificio Collegio Latino Americano”, quando, na pasta do Cinema Brasileiro, ele viu amarelados recortes de jornais nacionais e paraibanos, reconhecendo a importância de Linduarte Noronha para o cinema paraibano e brasileiro, tal qual foi a de José Américo de Almeida e a de José do Lins do Rêgo para a literatura paraibana e brasileira.
 
       Grandes autores se fizeram com poucos livros; uns geniais pensadores, sem alguma obra. Linduarte Noronha, com quatro: o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba - IPHAEP e os filmes Aruanda, Cajueiro Nordestino e Salário da Morte. Mas, que o digam Vladimir Carvalho e João Batista de Brito,  o melhor deles é o próprio Linduarte; criativo, antecipando-se ao cinema do futuro; um longo filme que sempre será por nós visto e revisto:  Linduarte, linda arte.