TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA
Vestida com a bata branca dos profissionais de saúde, a mocinha de cabelos rigorosamente penteados, sobraçando a prancheta de trabalho, plantada no meio da sala disse meu nome completo.
Levantei-me, como catapultado da cadeira estofada onde, há pouco sentara com os óculos de ver perto e o livro que estou lendo, p-a-u-s-a-d-a-m-e-n-t-e, considerando que tomaria o mesmo chá de cadeira que tomara na véspera, quando no consultório do Otorrinolaringologista (isso é que é nome bonito para se por num filho) esperei por mais de duas horas que o médico chegasse, que ligasse os equipamentos e atendesse a pessoa que já lá estava quando cheguei.
Obediente à ordem de – por aqui, por favor – segui por longo corredor com várias portas, devidamente identificadas com plaquetas indicativas do tipo de exame que, lá dentro, são feitos.
Entramos numa sala feericamente iluminada e com o ar condicionado capaz de congelar qualquer pinguim que, desavisado, entre ali.
Em posição diagonal ao quadrado da sala, atravessado como bambu na cheia, a máquina de tortura - o tomógrafo.
Sobre a mesinha foram colocados todos os objetos de metal e o telefone celular.
Deitado em posição supina na parte móvel do tomógrafo, fui imobilizado com diversas cintas de velcro.
E haja a caminha se movimentar para frente e para trás dentro de um tubo cheio de luzes circulantes.
Imaginei-me num forno crematório, sem poder me mover, a essa altura sob cobertor de lã, fechei os olhos incomodados pelas luzes.
Finda essa primeira parte teve início a seção de tortura medieval no melhor estilo do período da inquisição.
Deitado de bruços, com os braços ao longo do corpo coloquei a testa e o queixo num suporte fora da cama.
A cabeça foi imobilizada com almofadinhas que preencheram o espaço entre o suporte e as orelhas e várias cintas de velcro.
A posição da cabeça em relação ao resto do corpo pode ser descrita como uma pessoa que do térreo, com a barriga encostada na parede, tenta ver o que acontece na cobertura do prédio.
Dói tudo.
Os dois lados da inserção da mandíbula, o queixo, a testa e principalmente a coluna cervical.
O tempo que fiquei nessa posição não dá para ser medido em minutos ou horas.
São décadas.
Não. São séculos, aliás, melhor dizendo são Eras.
Na véspera, no consultório, depois de exame minucioso com toda aquela parafernália ligada ao computador, o médico pediu que fosse feita a tomografia computadorizada dos ossos temporais, sem contraste, com especial atenção para o ouvido médio direito, para confirmar o diagnóstico:
Retração da membrana timpânica – otite média secretora à direita.
E depois dessa tortura insana, com a cara mais lisa do mundo, a reencarnação do frade espanhol Tomás de Torquemada disse: - pronto, pronto, acabou!
Acabou para ela porque o meu pescoço ainda está doendo...