Que  fer_OZ!

                        Rosa Pena 



Ela não lhe afiançou que a cada noite teria, em sua homenagem, uma serenata com o solo do Pavarotti, apenas ela desafinando o Desafinado em seus ouvidos. Não lhe assegurou lençóis brancos sem máculas da vida, apenas tentaria fazê-los cor-de-rosa no tom dos novos dias. Também não garantiu que ele só daria saltos de alegria, mas que em caso de quedas teria seus braços para apoiá-lo.
Não consignou em cartório a quebra de toda e qualquer monotonia, isso é utopia, porém teriam adoráveis entremeios de euforia.

Ela realmente não fez promessas impossíveis, mas também não lhe ofertou afeto em forma de compressas, que aliviam a dor só na hora. Ofereceu-lhe sim, um antídoto poderoso contra a hipocrisia de uma relação a dois. Dela teria um dote sem valor em bancos, mas de qualidade inolvidável. Sua alma inteira, incluindo seus sorrisos marotos temperados com resquícios da nostalgia adquirida no antes, sua caixa de suspiros fresquinhos, seu coração adulto para guardar um homem maduro, seu ventre mãe para protegê-lo em seus instantes de menino, sua poesia, fruto de improvisos entre pêras e maçãs que transformam espadas- de- São Jorge em orquídeas, flor que brota só em uma estação, porém, provoca mais emoção que um perene verde plantado ao acaso.

Não era muito, ela sabia, mas, ainda assim, assustou-se quando ele, de repente, preferiu trocar sua madurez bronzeada no sol da verdade, por uma vaga de galã na última versão do Mágico. Pensou que ele já havia superado sua fase de espantalho e havia finalmente virado gente. Qual nada, seu personagem predileto sempre foi o Totó em busca da proteção de alguma sexy Dorothy. Afirma a cada nova conquista que suas mulheres anteriores são bruxas malvadas.

Ah! Coitadinho do indefeso guri na andropausa!

Ela, que por um tempo foi heroína, amargou por uns meses a fama de bruxa do sudeste. Antes tiveram algumas do nordeste, breve serão do sul, mais adiante centro... O mundo é gigante. Viva a globalização!

Também quem mandou oferecer a hóstia da sensatez para um ateu de si próprio?

Depois da mágoa, veio a pena, muita pena do personagem ridículo e junto à vontade de avisá-lo que estava na hora de pelo menos trocar de papel. Já que sempre lhe fez muita falta um bom cérebro e um coração decente, que tal tentar o homem de lata?

Porque cá entre nós, tentar passar-se por um cachorrinho seqüestrado, já de cabelos brancos e óculos com lentes de fundo de garrafas, não convence nem em OZ, que dirá aqui na terra do Saci, onde sapateiro corta uma perna do freguês pra ganhar o dobro.

Pensando melhor, vira mula-sem-cabeça que garante o Oscar ou vaga na política. Dizem que o Paulo Maluf já foi o boi Tatá! 



Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 14/01/2007
Reeditado em 28/09/2008
Código do texto: T346258
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