O médico, o exame e o xixi

Detesto hospitais, acho que é pelo cheiro, acho que é porque eu sempre acho que alguém vai passar mal na minha frente e eu vou começar a gritar e vão me levar direto pro setor psiquiátrico. Pra evitar esses constrangimentos, procuro passar o mais longe possível desses lugares. Mas às vezes sou obrigada a ir, para fazer alguns exames de rotina.

E nesse dia eu estava lá para fazer um ultrassom pélvico, pra ver se ainda sou mulher e tenho as coisas tudo no lugar.

Sempre rezo pra ser uma mulher, porque me sinto mais à vontade. Parecia que nesse dia minhas preces tinham sido ouvidas e a mulher me mandou abaixar as calças. De repente, ela sai da sala falando: “O doutor já está vindo.” É, não foi dessa vez.

Não sabia mais o que pedir, se pedia pro médico ser feio ou se pedia pra ele vir de qualquer jeito, a la Wagner Moura, lindo, feio, o cão chupando manga que fosse, mas que viesse logo, ou eu acabaria fazendo xixi na maca mesmo. Porque nesses exames não basta ter que ficar com a pélvis à mostra pra qualquer um, tem que ficar de bexiga cheia, estourando, mostrando as partes íntimas pra desconhecidos.

E ele entrou na pequena sala. Era muito bonito, loiro e tinha os olhos verdes. Perguntou meu nome e por que eu estava ali. Respondi tudo normalmente, tentando esquecer que estava com a intimidade exposta.

E a tortura começou. Meus instintos me tiravam o sentido, sentia vontade de cravejar as unhas no papel da maca, eu me controlava pra não começar a me retorcer. Parabéns, cérebro, você sabe como reagir quando a bexiga clama por socorro. Se você pensou algum tipo de besteira, saiba que é impossível pensar em outra a coisa a não ser em um banheiro limpinho e na sensação maravilhosa de alívio que dá quando estamos apertadas e podemos fazer nosso xixizinho em paz numa situação dessas.

O médico passava aquele aparelho gelado e o pressionava contra minha bexiga, apoiando-se na minha coxa para fazer isso. E, poxa vida, sem nem me levar pra jantar... Achei sacanagem, podia pelo menos ter oferecido um vinhozinho... Minha prece mudou de novo, agora era para que aquilo acabasse logo, antes que eu pagasse o maior king kong da história e fizesse o número 1 (e eu não to falando do Big Mac) e inundasse a salinha.

Olhava para o teto e tentava pensar em coisas que não me lembravam água. Esforço inútil. Cada minuto parecia uma hora. Depois de algumas horas em forma de minutos (ou o contrário?), acabou. Mal conseguia respirar. Me arrumei, disse boa tarde ao médico e agradeci. Graças a Deus havia um banheiro bem ao lado da sala e estava vazio. Se não estivesse, ficaria, porque eu tiraria a infeliz que o ocupasse a pancadas.

Finalmente tudo havia acabado. Saí o mais rápido possível que podia daquele hospital e tinha todas as razões do mundo para aquilo. Espero que inventem um aparelho que enxergue meu útero com a bexiga vazia. Ah, como espero.

Lisandra Lopes
Enviado por Lisandra Lopes em 26/01/2012
Código do texto: T3461992
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