Eles.
Quinta-feira de manhã, na cama, eu acordo com o aviso de mensagem no meu celular, o loirinho de dreads e olhos verdes está me desejando um bom dia e sugerindo uma cerveja em sua casa mais tarde. Era legal ir à casa dele de vez em quando. Davi morava sozinho e as paredes do seu apartamento eram grafitadas e bem coloridas. Me sentia bem lá. Ficava descalça e vestindo só uma camiseta dele, dançando alguma música boa, das que eu baixava em seu notebook. Ia quase sempre depois do trabalho e ele geralmente cozinhava enquanto eu escolhia as músicas e bolava um fino para a gente fumar. Davi queria que passássemos o resto da vida juntos. Eu me contentava só com o resto da noite mesmo.
- Stelinha, vem morar comigo, larga aquele babaca.
- ...
- Você é medrosa isso sim, tem medo de gostar demais de mim. Fala a verdade, bebê.
- Não viaja, Vi. A gente não daria certo, você sabe.
- Não sei não.
- Então continue sem saber e vem cá me dar um beijinho.
Esse era Davi, que eu havia conhecido no show da nossa banda preferida de ska há dois anos atrás. Davi que tinha o cabelo mais lindo de todos, que sorria com olhos e cozinhava pra mim. Davi, o loirinho de dread das quintas à noite e sextas de manhã.
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Sexta Feira.
No metrô, indo pro trabalho, um moreno de boné da Sumemo e Vans no pé chamou minha atenção. Olhei, sem intenção nenhuma de disfarçar. Ele me olhou também, desviei o olhar e quando voltei ele estava vindo em minha direção.
- Licença. - Ele diz, enquanto sentava ao meu lado.
- Faz diferença?
- Que?
- Eu dar licença ou não, que diferença faz? Você sentaria de qualquer jeito, não é?
- ...
- Imaginei.
- Há quanto tempo?
- Há quanto tempo, oque?! -Retruquei, confusa.
- Você não faz sexo. Digo, só alguém sem trepar há muito tempo tem disposição pra reclamar assim no metrô numa sexta de manhã.
Nos demos bem, conversamos durante todo o trajeto da linha azul do metrô e ao chegar Armênia, nos despedimos com um selinho meio acidental e trocamos telefones.
Lucas, todo largado. Lucas da linha azul, da barba por fazer, do sorriso bonito e dentes branquinhos e simétricos.
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Ainda sexta-feira.
Já no trabalho, em frente à máquina de café, um cara todo tatuado do outro setor sorri pra mim e vem puxando assunto.
- Nossa. -Ele fala, com uma cara meio engraçada.
- Oi?
- Como alguém com essa tattoo conseguiu um emprego aqui? -Ele diz, sem tirar os olhos do "Skateboarding" tatuado no meu peito.
- Engraçadinho. Do mesmo jeito que você: ameaçando alguém, claro.
- Ah, sim. E a dona Gangster vai almoçar onde hoje?
- Restaurante japonês do shopping aqui ao lado.
- Eu também, e com você.
Trocamos e-mails a manhã toda. Almoçamos juntos. Dormimos juntos.
Gustavo, da área de programação da empresa onde eu trabalhava. Gustavo que tinha uns sessenta por cento do corpo tatuado, que tinha uma barba maravilhosa e me levou café na cama.
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Durante o almoço, o cozinheiro do restaurante japonês ajeita os sushis em formato de coração no meu prato, e dá uma piscadinha ao me ver envergonhada.
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Sexta à noite.
Encontro meu quase-namorado na catraca da Ana Rosa. Fomos pra casa dele, como sempre, e ele é legal. E só.
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Então é isso?
Pensei.
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Conversei com o moreninho da Armênia de manhã. Pisquei pro japa no almoço. Fui pra casa do loirinho de dreads à tarde. Durmo com meu quase-namorado às vezes. Esperando, e só esperando o momento...
em que alguém vai ocupar meu coração tanto quanto esses homens ocupam meu tempo.