TANAJURA
Depois de longo período de estio choveu, por três dias, em toda Zona da Mata e em grande parte do Estado de Pernambuco.
Em alguns locais, chuva forte, mas na maior parte foi chuva fininha, persistente, criadeira, daquelas que o mundo fica todo branco e a claridade difusa do dia logo se esvai.
Hoje o sol voltou, forte, mais claro ainda por causa da atmosfera lavada pela chuva, sem os micro-grãos de poeira em suspensão que mais tarde se tornariam o núcleo das gotas de chuva, ao serem cobertos pelo vapor d’água evaporada trazido pela brisa marinha.
Também hoje se repetiu o fenômeno da revoada das tanajuras (Atta sexdens) que ocorre quando as chuvas de janeiro vêem interromper por alguns dias a rotina do sol forte em tempo seco.
Nessas revoadas os casais de formiga executam o vôo nupcial.
Os machos morrem logo após o acasalamento e as fêmeas que incorporam aos seus organismos os aparelhos genitais masculinos, perdem as asas e vão procurar na terra molhada um local para fazerem o ninho.
Cavam um túnel com mais ou menos 20 cm de profundidade que se alarga no fim formando a câmara, que chamamos de panela, para ali, cuspir a porção do fungo Pholota gongynophora – Moeller, sem nome vulgar, que é o único alimento desses notáveis animais.
Nesse período inicial o fungo se alimentará dos excrementos da tanajura que porá ovos grandes destinados à sua alimentação e das primeiras filhas operárias que mais tarde trarão pedacinhos de folhas que serão introduzidos na massa do fungo por suas irmãs menores, conhecidas como jardineiras, pois são elas que cultivam o fungo e por muitos anos, nós humanos que temos a mania de classificar tudo o que vemos, considerávamos os fungos como parte do Reino Vegetal, mas esse equívoco científico já foi devidamente corrigido e hoje os fungos estão dentro do Reino Fungi, e fazem parte do grupo de seres decompositores, encarregados da reciclagem da matéria, para que se cumpra a Lei de Lavoisier – NA NATUREZA NADA SE CRIA, NADA SE PERDE. TUDO SE TRANSFORMA.
Com a consolidação desse novo formigueiro, seus componentes terão tamanhos e ornamentos diferenciados dependendo das funções que exercerão, jardineiras, operárias, soldados, machos e novas fêmeas que mais tarde se tornarão rainhas e poderão viver por até catorze anos em plena atividade de postura de incontáveis ovos, fecundados ou não.
Mas todo esse fenômeno natural, maravilhoso por sua complexidade pode não ocorrer porque nós herdamos dos nossos ancestrais indígenas, o delicioso costume de comer o abdome das tanajuras frito na manteiga. O sabor marcante lembra o do camarão frito e em dias como hoje, centenas de crianças e adultos correm atrás das revoadas, repetindo a parlenda da época em que eu era menino.
“Cai, cai tanajura,
Tua bunda tem gordura”
Carpina/PE, 24 de janeiro de 2012
OBS: As tanajuras também são conhecidas pelos nomes vulgares de Saúva, Cortadeira, Içá...