SAMPA: DO ROMANTISMO (de ontem) AO REALISMO (de hoje)

Hoje, aniversário da (também minha!) querida cidade de São Paulo, será dia de intensa comemoração e certamente não é a toa que o astro rei parece muito animado para a festa, este apertado Sol de Sampa, que bem cedinho já brilhava a iluminar o cenário que preguiçosa e silenciosamente despertava.

Um cenário atípico porque desacelerar São Paulo é, de fato, uma utopia, posto que Sampa por natureza é a cidade que não pára nunca.

Decerto que a festa terá vários endereços charmosos, várias manifestações artísticas abertas, orações coletivas de caráter ecumênico, discursos, passeio ciclístico, e obviamente não nos faltará a boa vontade dos gestores em promover um belíssimo dia de festa...a todos, afinal ninguém sobrevive só de problemas.

A lembrar que também comemoramos os cento e vinte anos da avenida Paulista, um quase antigo coração de Sampa que, perigosamente, ainda pulsa com muito charme e muita emoção.

Como diria Roberto..."são tantas as nossas emoções por aqui..."

Desde a fundação da cidade, cujo marco histórico é o Páteo do Colégio dos padres jesuítas, São Paulo passou por intensa metamorfose social e geopolítica, e revendo a arte de quem aqui chegou lá nos remotos tempos áureos da cidade, seja com os próprios olhos ou com a inesgotável audição da clássica "Sampa de Caetano", poderá ter uma ideia da profunda aceleração desordenada que a cidade engatou...e que disparou sem controle pelas mãos dos sucessivos gestores da cidade.

Faz tempo que, deveras, alguma aconteceu na famosa esquina da Avenida Ipiranga com a Avenida São João...algo como se aquela página romântica e poética dum passado remoto tivesse ficado ali, nos versos perpetuados do poeta baiano sob a névoa da garoa que também se foi para sempre...

Ali, no chamado centro velho, é como se caminhássemos pelo tempo a versejar seu glamour um tanto desbotado e poluído: algo como "do romântico palco do Municipal ao surreal drama social..."

Conhecida como uma das maiores megalópoles do mundo, São Paulo hoje é eclético palco humanístico e cosmopolita, aonde de tudo acontece, aonde borbulha um laboratório de ensaios de comportamentos numa coletânea de fatos cotidianos e históricos.

Todavia havemos de ser ser realistas: muito há por se fazer urgentemente pela hospitalidade e funcionamento da cidade.

Não há como tentar pará-la no seu aniversário apenas para lhe render as justas homenagens sem que, no concreto, tenhamos nossos olhos voltados para a atual displicência para com o seu NEGLIGENCIADO destino de megalópole cosmopolita.

Ninguém vive feliz só de títulos!

Neste último reveillon que tivemos, maravilhoso por sinal, alguém teve a brilhante ideia de convidar o maestro Antônio Carlos Martins para reger a AVE MARIA DE GOUNOD, que lindamente soou sob a chuva logo nas primeiras horas de dois mil e doze.

AVE, AVE! Espetacular ideia. O musical tema teológico, então...

Mais do que providencial, porque por nós, paulistanos e brasileiros, só as misteriosas forças dos céus...com muita oração para nos salvar dos nossos tantos caos.

Que os Santos consigam o que os "Homens" já não conseguem há muito tempo: o milagre de controlar e proteger a cidade.

São Paulo está extremamente perigosa, cara mas caríssima demais para quem trabalha e a sustenta como cidadão e desordenada no seu crescimento urbano historicamente mal planejado e mal cuidado.

É muito desgastante para todos viver por aqui nos atuais dias de descaso gerencial.

Sampa tem a nossa cara...uma cidade tão engessada e assustada como o sol que, todas as manhãs, tenta brilhar em liberdade por entre os topos dos tantos arranhacéus...

De e com muita sorte...

Parabéns São Paulo, ainda que neste meu verso embargado (portanto não plagiado!) muita coisa também aconteça no meu sampista e INCONFORMADO coração. E faz tempo...