NINGUÉM NOTOU?

Passou despercebido quando o olhar, ainda inocente, pediu o carinho da vida.

E olha que naquele tempo, tudo valia a pena. Coisas simples como um brinquedo desprezado por outros; ser Super-herói na brincadeira; o pique da tarde ou a merenda no recreio.

Não se percebeu aquela vida que sorria, ainda que as marcas denunciassem o choro contido no abandono da alma, que só corria do tempo sem saber o que fazer.

Não! Ninguém notou a revolta que brotava ao oferecer um doce no sinal, e recebia os trocados que roubavam sua infância.

Também não reclamaram do desprezo do sistema que negava a escola, a saúde e a cidadania.

Não, ninguém viu quando estendeu a mão em busca de algo, além da esmola.

Não, eles não existiam no contexto das luzes, do palco montado em nome da "ajuda" do famoso ou dos shows onde a emoção do momento não se traduzia em vida.

Não, não pra eles.

Até que um dia, foi notado e todos viram.

Retratados nas páginas policiais.

Mas... agora talvez seja tarde demais, para encontrar a criança naquele sujeito com uma arma nas mãos.

A poesia da vida se repete.

Que tal olhar para o lado da vida, onde outros olhares... buscam o seu olhar?