Feliz como pinto no lixo

"Feliz como pinto no lixo", tal expressão só poderia ser de um sexagenário, para mais. É incrível como a linguagem consegue se fixar com tanta veemência em nosso it, e fazer parte da nossa personalidade. Os tempos passam, as coisas evoluem, expressões ou palavras desaparecem, porém algumas pessoas não conseguem se desvencilhar de traços que marcaram os melhores momentos da juventude, como por exemplo, os anéis, a sandália de couro, o chapéu, o tênis All Star, as pulseiras metalizadas, a calça Levi’s, a camiseta regata, as músicas e tantos outros estilos e marcas.

Ao ouvir a expressão “Feliz como pinto no lixo!”, pensei como e onde encontrar um pintinho esparramado no lixo de uma residência urbana? Para comprovar que a fala do amigo era para lá de antiquada, repeti-a durante o jantar de Natal, a fim de expressar o quão feliz estava em reunir toda a família numa data tão especial. Os participantes entreolharam-se, como se eu estivesse muito fora do contexto. Possivelmente, relacionaram a fala a um outro sentido, mais de acordo com o momento. Hoje, ao falar em “pinto”, o que vem à cabeça? Ainda mais brincando no lixo, que pouca vergonha!

Agora, se observarmos o quanto é sério essa coisa de pararmos no tempo em algumas situações, podemos concluir que o nosso subconsciente manda e desmanda, além da nossa consciência.

“Feliz como pinto no lixo” representa uma fase vivida por muitas pessoas em outras gerações que se divertiam observando a parte do quintal que não recebia nenhum tipo de saneamento ou coleta de lixo. Animais e fogo encarregavam-se da limpeza dos dejetos. Os mais jovens, portanto, não poderiam mesmo fazer alguma relação da expressão com o seu dia-a-dia. É por isso que eles condenam o falar dos mais velhos. Também, dizeres como esse entrega a idade do indivíduo, não é mesmo? A presença do ser nem se faz necessária, para concluirmos tratar-se de alguém que ficou no tempo em que as galinhas quase bicavam as pessoas para conseguirem chegar mais rápido à refeição, para elas, fresquinha. O que sobrava, era a diversão dos pintinhos. Veja se isso tem cabimento no nosso tempo? Seria mais condizente, talvez: “Feliz, como uma mulher fazendo compras no shopping”, ou “Feliz, como ratos e baratas no bueiro”, ou....ou.... Fica por conta da imaginação, senão, inconscientemente, posso usar de referências que façam parte de algum arquivo do meu tempo.

Joisia Goes
Enviado por Joisia Goes em 25/01/2012
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