Compra-se um pai
Muitos talvez conheçam a história que, faz tempo e não me lembro onde, li sobre um garotinho de orfanato. Quando aparecia uma visita, ele corria-lhe ao encontro com papéis recortados em forma de cédulas, e os oferecia, pedindo: “Tó meu dinheiro, compra um pai pra mim”.
A cena, mesmo imaginada, comove pela inocência e dor do pedido. Calcule-se o espanto do embasbacado visitante. Surpreendeu-me o pedido por um pai. Acostumamo-nos à idéia de que filho sente mais a ausência da mãe. Talvez o orfanato fosse dirigido por religiosas que, muitas vezes, oferecem amor mais completo que mãe biológica. Esta, quem sabe, não fizesse tanta falta à criança.
O avanço científico dos últimos tempos tem conhecido uma escala que parece autorizar-nos a jogar fora certezas tidas, até aqui, por inabaláveis. De repente, nos vemos tão evoluídos nas ciências que passamos a desprezar lições, antes sagradas.
Dia dos Pais era uma data respeitosa, criada para homenagear aquele que, desde os albores da vida, garante segurança e ternura. Hoje, sob tanta propaganda de incentivo ao consumo, nos tornamos vítimas de mais uma das muitas armadilhas que o mercado cria para enganar os trouxas que somos. O erro está não em festejar os pais, mas em fazer do seu dia só data de faturamento maior para o comércio.
Não obstante todas as transformações, não é exagero dizer mais uma vez: pai é necessário. Não só para gerar o filho, mas para viver ao seu lado num grupo humano permanente e responsável, chamado família.
Ao lado da mãe, a presença física, estável e amorosa do pai é exigência básica para equilíbrio emocional e desenvolvimento sadio da personalidade de qualquer criança. São falaciosas - e a vida o tem cabalmente comprovado - as propostas de modelos diferentes. Dispensar a família por inútil, como resquício de organização social imperfeita e transitória, demonstra ignorância bem mais que conhecimento. Sem medo de receber a pecha de atrasado, continuo a entendê-la como construtora do futuro da humanidade.
Vai tornando-se “normal” a ausência física do pai e a desnecessidade de uma família indissolúvel com marido, mulher e filhos. Cresce, entre muitos que se consideram evoluídos cultural, intelectual ou economicamente, a convicção de que o momento exige novos modelos, em que cada pessoa assuma o que lhe parecer mais conveniente. Sem um referencial objetivo a ser observado que, para eles, não existe.
“Pelos frutos se conhece a árvore”, ensinou o Senhor. Basta ver que sociedade vamos produzindo nestes tempos. Uma das causas tem sido a diluição da família de moldes cristãos, formada na observância dos valores essenciais da natureza humana.
Crer que absolutamente tudo até aqui ensinado tenha que ser virado de pernas para o ar não traz a felicidade nem a paz desejadas. Apenas intensifica a desgraça que pretende corrigir.
O erro está não na família, mas no coração da pessoa. Ele é que precisa mudar. Só que isso custa. Mais fácil é atirar pedras na família. Não dá trabalho. Não exige responsabilidade. Nem transformação interior, que é difícil pra burro.