RESPIRANDO PIRANHAS
Viagem agradável, ou não, depende do estado de espírito de cada um, como motivação e companhia. Há lugares que parecem não cansar nunca de serem visitados. Estava em uma Pousada à beira do rio São Francisco, tomando um delicioso e farto café da manhã. Só a vista já valia a viagem. Na mesa ao lado um casal, como muitos que observo em cinemas e restaurantes, pois são apenas dois, sem interação, sem mais conversas. O senhor diz que é de Salvador e que está voltando de uns dias em Maceió e a viagem para chegar ali, em Piranhas, lhe pareceu não mais ter fim. Ao falar que a viagem não foi sentida assim, diz ele que está viajando só com a esposa e estamos em grupo. Percebo o “só” e, então, deu para entender como tudo se torna longe, distante, maçante. Sentia-se só por não redescobrir o companheirismo, o reviver história, o entretenimento em conversas bobas e recontadas, o escutar músicas juntos e cantarolar as canções, o comer guloseimas no percurso, o se perder com algumas placas mal sinalizadas e até achar divertido o retornar e sentir que agora o caminho seria acertado. Muitas vezes o não reinventar o falar e o escutar, mesmo com alguns possíveis escorregos na linguagem, podendo causar uma falsa interpretação, mesmo que seja passageira e sem menor importância, faz com que o relacionamento não caia na monotonia, no desencanto, na descoberta de que há muita vida fervilhando entre o casal e não uma relação distante, chata, monótona e que faz tudo parecer, longe, sem saída e não ter fim.
Há muito tinha passado na cidade alagoana, sertaneja, de Piranhas e forçando a memória lembrava de muitas ladeiras, com bares nas margens do rio e que tinha comido deliciosos pitus. Vinha de Paulo Afonso e a estrada, na época, era muito ruim e poeirenta, completamente diferente de como se encontra agora. Sabia que um dia voltaria.
Falavam-me dos cânions do São Francisco, havia visto fotos e reportagens e a vontade de visitar cresceu muito de um ano para cá. Tudo tem seu tempo certo. Conheci em outubro de 2011 os “canyons” americanos, retornando de Las Vegas. Estava na companhia de quatro amigas alagoanas e fui privilegiada por percorrer a visitação de helicóptero ao lado do piloto. A brincadeira era que eu tinha pago mais, escondido, pelo passeio, mas foi pura e boa sorte. Vista indescritível e deslumbrante. Agora era determinação ir conhecer os nossos cânions, tão mais perto. Para tal tinha que buscar os meios, reservas em pousada, em catamarã e o mais importante, a companhia. Tudo preparado para os últimos dias antes da virada de ano e dias seguintes deste novo ano. Sentia que ia ter dias maravilhosos pela frente. Tudo daria certo e deu.
Por duas vezes voltei. O belo não cansa, principalmente quando a natureza está presente. Respirava ar puro, respirava com gosto a cidade de Piranhas. Uma amiga me reclama do calor do lugar. Digo-lhe que realmente é muito quente, como qualquer cidade ribeirinha, nesta época sem chuvas, mas que a cidade é encantadora, fascina e hipnotiza. Já havia escutado que ela parece com uma lapinha e parece mesmo, é glamourosa e linda. Achei ótimo subir e descer suas ladeiras, ir à noite tomar café com rocambole na Torre, com seus 40 degraus numa escada de ferro em caracol, escutando de perto as badaladas incansáveis de seu sino, pois toca de quinze em quinze minutos e marca, com forte badalo, as horas; subi os 336 degraus em direção a um restaurante no alto para ver a cidade à noite, embora tivesse opção para ir de carro; subi também os 240 degraus para chegar à igrejinha que parece estar perto do céu, da lua, das estrelas e também retribui a visita com uma linda vista da cidade.
De Piranhas fui a Angicos e o passeio é chamado de “Trilha de Lampião”. O barco leva os visitantes até a gruta onde Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros foram emboscados e mortos pela polícia alagoana. A gente retorna ao tempo vendo o lugar e à história ouvindo o guia. Para se chegar ao local há que se fazer uma trilha em subida pelas caatingas. Para seguir o guia haja fôlego! Na volta, pode-se tomar um diferente suco de tamarindo e mergulhar, não nas mesmas águas em que se banhavam Lampião, Maria Bonita e seu bando, mas no mesmo lugar, chamado de Prainha, com águas limpas e cristalinas, antes de retornar a Piranhas, olhando a correnteza do rio e a formação de suas “panelas”.
Dia seguinte o percurso para o porto dos catamarãs, em Sergipe, que é de 22 quilômetros. A embarcação sai lotada de turistas, músicas regionais tocando o tempo todo, intencionalmente para marcar para sempre a memória auditiva dos visitantes e a viagem prossegue, passando por vistas de formações rochosas diferentes, como as pedras, umas sobre as outras, lembrando um pagode japonês e outras. Enfim, quando o barco adentra os cânions, fica-se quase paralisado diante da deslumbrante vista. É emocionante e indescritível. A cor do rio, a temperatura da água, o banho em sua piscina natural, com ou sem rede, o passeio de barco por suas grutas, transformam-se em um grande presente para ser sempre lembrado. A sensação é de paz, alegria e mais do que privilégio é presenciar espetáculo tão belo da natureza. Já vi muita coisa bonita neste mundo do meu Deus, mas o que vivenciei, por duas vezes, é para ser registrado em fotos, na memória e pensar em retornar mais e mais vezes.
Viagem agradável, ou não, depende do estado de espírito de cada um, como motivação e companhia. Há lugares que parecem não cansar nunca de serem visitados. Estava em uma Pousada à beira do rio São Francisco, tomando um delicioso e farto café da manhã. Só a vista já valia a viagem. Na mesa ao lado um casal, como muitos que observo em cinemas e restaurantes, pois são apenas dois, sem interação, sem mais conversas. O senhor diz que é de Salvador e que está voltando de uns dias em Maceió e a viagem para chegar ali, em Piranhas, lhe pareceu não mais ter fim. Ao falar que a viagem não foi sentida assim, diz ele que está viajando só com a esposa e estamos em grupo. Percebo o “só” e, então, deu para entender como tudo se torna longe, distante, maçante. Sentia-se só por não redescobrir o companheirismo, o reviver história, o entretenimento em conversas bobas e recontadas, o escutar músicas juntos e cantarolar as canções, o comer guloseimas no percurso, o se perder com algumas placas mal sinalizadas e até achar divertido o retornar e sentir que agora o caminho seria acertado. Muitas vezes o não reinventar o falar e o escutar, mesmo com alguns possíveis escorregos na linguagem, podendo causar uma falsa interpretação, mesmo que seja passageira e sem menor importância, faz com que o relacionamento não caia na monotonia, no desencanto, na descoberta de que há muita vida fervilhando entre o casal e não uma relação distante, chata, monótona e que faz tudo parecer, longe, sem saída e não ter fim.
Há muito tinha passado na cidade alagoana, sertaneja, de Piranhas e forçando a memória lembrava de muitas ladeiras, com bares nas margens do rio e que tinha comido deliciosos pitus. Vinha de Paulo Afonso e a estrada, na época, era muito ruim e poeirenta, completamente diferente de como se encontra agora. Sabia que um dia voltaria.
Falavam-me dos cânions do São Francisco, havia visto fotos e reportagens e a vontade de visitar cresceu muito de um ano para cá. Tudo tem seu tempo certo. Conheci em outubro de 2011 os “canyons” americanos, retornando de Las Vegas. Estava na companhia de quatro amigas alagoanas e fui privilegiada por percorrer a visitação de helicóptero ao lado do piloto. A brincadeira era que eu tinha pago mais, escondido, pelo passeio, mas foi pura e boa sorte. Vista indescritível e deslumbrante. Agora era determinação ir conhecer os nossos cânions, tão mais perto. Para tal tinha que buscar os meios, reservas em pousada, em catamarã e o mais importante, a companhia. Tudo preparado para os últimos dias antes da virada de ano e dias seguintes deste novo ano. Sentia que ia ter dias maravilhosos pela frente. Tudo daria certo e deu.
Por duas vezes voltei. O belo não cansa, principalmente quando a natureza está presente. Respirava ar puro, respirava com gosto a cidade de Piranhas. Uma amiga me reclama do calor do lugar. Digo-lhe que realmente é muito quente, como qualquer cidade ribeirinha, nesta época sem chuvas, mas que a cidade é encantadora, fascina e hipnotiza. Já havia escutado que ela parece com uma lapinha e parece mesmo, é glamourosa e linda. Achei ótimo subir e descer suas ladeiras, ir à noite tomar café com rocambole na Torre, com seus 40 degraus numa escada de ferro em caracol, escutando de perto as badaladas incansáveis de seu sino, pois toca de quinze em quinze minutos e marca, com forte badalo, as horas; subi os 336 degraus em direção a um restaurante no alto para ver a cidade à noite, embora tivesse opção para ir de carro; subi também os 240 degraus para chegar à igrejinha que parece estar perto do céu, da lua, das estrelas e também retribui a visita com uma linda vista da cidade.
De Piranhas fui a Angicos e o passeio é chamado de “Trilha de Lampião”. O barco leva os visitantes até a gruta onde Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros foram emboscados e mortos pela polícia alagoana. A gente retorna ao tempo vendo o lugar e à história ouvindo o guia. Para se chegar ao local há que se fazer uma trilha em subida pelas caatingas. Para seguir o guia haja fôlego! Na volta, pode-se tomar um diferente suco de tamarindo e mergulhar, não nas mesmas águas em que se banhavam Lampião, Maria Bonita e seu bando, mas no mesmo lugar, chamado de Prainha, com águas limpas e cristalinas, antes de retornar a Piranhas, olhando a correnteza do rio e a formação de suas “panelas”.
Dia seguinte o percurso para o porto dos catamarãs, em Sergipe, que é de 22 quilômetros. A embarcação sai lotada de turistas, músicas regionais tocando o tempo todo, intencionalmente para marcar para sempre a memória auditiva dos visitantes e a viagem prossegue, passando por vistas de formações rochosas diferentes, como as pedras, umas sobre as outras, lembrando um pagode japonês e outras. Enfim, quando o barco adentra os cânions, fica-se quase paralisado diante da deslumbrante vista. É emocionante e indescritível. A cor do rio, a temperatura da água, o banho em sua piscina natural, com ou sem rede, o passeio de barco por suas grutas, transformam-se em um grande presente para ser sempre lembrado. A sensação é de paz, alegria e mais do que privilégio é presenciar espetáculo tão belo da natureza. Já vi muita coisa bonita neste mundo do meu Deus, mas o que vivenciei, por duas vezes, é para ser registrado em fotos, na memória e pensar em retornar mais e mais vezes.