CASAIS INFELIZES

Leio no encarte Equilíbrio da Folha de SP (17/01/12) o texto da antropóloga e professora da UFRJ, Mirian Goldenberg, “O que eles e elas querem”. Refleti sobre o que leva os casais, em sua maioria, a se sentirem infelizes em suas relações. A professora parte de alguns depoimentos mostrando que não há consenso entre os desejos dos homens e mulheres. Sei que o movimento psicológico, físico e cultural diverge em ambos os sexos. Fico me perguntando se não época dos meus pais os casamentos eram mais duráveis pelo papel que a mulher desempenhava, pela acomodação, por não vislumbrar mudanças em sua vida, por não ter acesso a muitas informações sobre a igualdade de direitos e outras reivindicações, ou como sentir-se casada era aparentar estar feliz e assim alimentar tolerância, paciência, compreensão e acomodação.

Por que as relações entre os casais estão tão fragilizadas? Nada dura para sempre, mas casar ou se juntar já pensando em se separar com brevidade é para tentar buscar possíveis causas. Conheço casos recentes em que as dívidas das festanças não foram liquidadas e os casamentos já terminaram. Recentemente a imprensa noticiou um casal de atores que foi retornando da lua de mel e anunciando o divórcio, já que o noivo estava apaixonado por outra atriz da TV Globo. Por que casou, infeliz?

O texto aponta que há desconhecimento dos reais desejos do casal, sejam jovens ou não. Observações indicam que ninguém quer ficar sozinho. Se uma relação não dá certo, procura-se outra e outra e repete a situação, mais uma separação e mais uma busca por outro relacionamento, como a letra da música de Edu Krieger: “... Mais uma página do mesmo livro... mais uma face do mesmo eu...”. Complicado é quando há filhos na jogada, mas mesmo assim nada vai impedindo de se tentar encontrar o parceiro(a) ideal, como se houvesse. Os envolvidos nem param para refletir onde há erros, razões para as escolhas não darem certo. Antigamente usavam uma frase famosa ”separação por incompatibilidade de gênios”. Naquela época não havia permissão de se testar relações sexuais de forma quase que consentida pelos pais e por períodos duradouros. Há tanta convivência hoje que a divergência em valores, gostos, opções de lazer e outros é facilmente identificada. Hoje inúmeros casais convivem, mesmo sem dividirem o mesmo teto. Há inúmeras formas de testar a convivência antes de tornar público a relação ou no casamento. Os dados demonstram que a infidelidade é uma das causas mais fortes para a separação, com poucos ou muitos anos de união. As motivações são as mais diversas para a traição e mudam de acordo com o sexo. Quando chega a este ponto não está valendo o investimento na relação. Querer provar o diferente não justifica o ato. Quando acontece, por mais escondido que se faça, mais dias, menos dias os rastros poderão surgir e o castelo vai ruir, sobrando mágoas, desejo de vingança, ressentimento, raiva, desencanto, desilusão, desorientação, já que um dos dois quase sempre sai machucado. Quando se está na relação e busca-se outro (a), mesmo que seja uma aventura, há consequências e sinaliza que algo não está funcionando bem. Sei que os estímulos, as provocações e as investidas são tentadores e inúmeros, para ambos, mas há que pensar: o que se quer? Constituir família? Alguém que seja um apoio nas circunstâncias mais diversas? É amor e não interessa buscar outro alguém? A falta de clareza sobre o real desejo é a mola para deixar entrar desencanto, frustração, insatisfação e perda do afeto.

Mirian tenta apontar uma saída para homens e mulheres infelizes em suas relações, escrevendo: “A falta de compreensão e de escuta parece explicar grande parte das insatisfações masculinas e femininas. Parece tão simples, mas que tal perguntar para o outro o que ele realmente quer? E ouvir com atenção e carinho a resposta, sem julgar, rotular e condenar? “ Sabe-se que, muitas vezes, não se faz necessário usar da palavra para perceber o desejo do outro. Há outras formas de sinalização, através de gestos e atitudes, que vão apontando o que se gosta ou não, as diferenças e as semelhanças e como se pode, com muita dose de paciência e investimento, fazer valer a escolha, cedendo em algumas ocasiões, tentando ser maleável. Não é e nunca foi fácil conviver com o diferente. Para ter êxito e fazer sobreviver a união, o casal tem que ser tolerante, usar do bom senso, brigar quando necessário, mas dentro do possível saber perdoar e cultivar o amor, acima de tudo. Não há fórmula mágica para um casal superar as diferenças, mas é possível usar do respeito, da confiança e ir apostando diariamente na relação.


Edméa
Enviado por Edméa em 22/01/2012
Reeditado em 22/01/2012
Código do texto: T3455986