COLHEITA DO MILHO
COLHEITA DO MILHO
Uma das épocas de maior alegria no meio rural era a da colheita. A razão dessa alegria é que a família veria o fruto do seu trabalho. Na colheita do milho, por exemplo, uma semana antes, o ambiente alegre na família já era notado: fazer ou reformar os balaios de taquara; limpar o paiol; verificar a esteira do carro de boi que transportaria o milho; chamar alguns companheiros para ajudar na colheita e tomar algumas outras providências.
É interessante como essa alegria contaminava toda a família. A dona de casa já comentava o que faria com o milho novo depois de seco: angu, broas, farinha, canjiquinha (sopa e seca),etc. Quando o milho estava verde foi a vez do mingau, do bolo e do bolinho, do milho cozido ou assado.
Uma coisa que o pequeno agricultor não admitia era comprar o milho e deixar de plantá-lo. Nada substituía a alegria de estar colhendo a sua roça, formando as bandeiras (montes); ver o carro de boi despejando o milho na porta do paiol , separar as espigas maiores para mostrar aos compadres, parentes e demais visitas; empilhar o milho no paiol. Havia, também, a reunião da família, à noite, para debulhar o milho que seria levado, na manhã seguinte, para o moinho d'água. No almoço, já seria servido o primeiro angu de milho novo.
As criações do terreiro (galinhas, patos, perus, marrecos, gansos, ) bem como os porcos e cabritos, já poderiam contar com uma maior quantidade de ração. As palhas serviriam para encher os colchões; acenderem o fogo de manhã; fazer petecas para os meninos; fazer vassouras para varrer o forno de barro, etc. O sabuco (sabugo) seria usado como combustível no fogão; para fazer brasas que seriam usadas no ferro de passar roupas; para os meninos brincarem de bois de carro, etc.
O agricultor já sabia o quanto era necessário de milho para as despesas da casa até a próxima colheita. A sobra era vendida para o comércio da cidade ou para a vizinhança. Nessa ocasião, se não tivesse um debulhador mecânico era costume arranjar um, emprestado, pois não dava para debulhar o milho, manualmente. O milho era soprado e embalado em sacas de 60 quilos, geralmente de algodão e costurado com uma agulha própria. O transporte para a cidade era feito no carro de boi ou em tropas.
Com a venda do milho, o dinheiro era empregado na compra de roupas e calçados, na aquisição de alguns animais para o terreiro e até para concretizar o sonho de uma viagem: Aparecida do Norte, Congonhas (Jubileu) e visitas a parentes de outras localidades.
A colheita de todos os cereais e de outros produtos agrícolas, sempre era motivo de alegria. A colheita do milho, no entanto, era a mais representativa do contexto social e familiar do nosso meio rural.
Por tudo isso, a cultura do milho era e talvez ainda seja considerada a de maior utilidade para as famílias do nosso meio rural.
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Dedico esta crônica ao meu amigo Sr. Helvécio da Silva Araujo, que conhece muito bem as labutas e alegrias do homem do campo.
Murilo Vidigal Carneiro