As peças que a memória nos prega.
Estava eu lendo a crônica de Ana Toledo (Diversão Filosófica) quando comecei a filosofar – por que a memória nos prega tantas peças que chega a um ponto que duvidamos que certos acontecimentos realmente aconteceram?
A filosofice surgiu a partir dos questionamentos que Ana faz sobre o prazer que é se assentar em um balanço e balançar. Imediatamente me lembrei do balanço que tínhamos no quintal de nossa casa em Arantina e também do belo tombo que levei. Balancei, balancei e caí. O problema memorístico começou aí – não consegui me lembrar como foi que caí do balanço. Não consegui definir se foi o galho que quebrou, a corda que arrebentou ou se eu quis voar alto, cada vez mais alto e acabei foi me estatelando no chão. Não consigo me lembrar também em qual árvore o balanço foi montado. Seria uma jabuticabeira, um abacateiro ou uma mangueira?
Bem me lembro, porém do sentimento – um verdadeiro pavor, pois achei que fosse morrer. Gritei, pedi socorro e ouvi minha voz desaparecendo, saindo esquisita pela minha boca. Socorro, eu estou morrendo. O socorro demorou a aparecer, uma eternidade e acho que realmente só foram olhar o que estava acontecendo porque eu fiquei calada. E aí foi um corre corre um Deus nos acuda! Confessaram depois que não me deram atenção porque, sendo eu muito escandalosa, acharam que eu estivesse brincando.
Daí tentei ativar minha memória relembrando fatos de minha infância e a maioria deles não consegui lembrar com clareza. Situações marcantes que pensei nunca esquecer, que me fizeram sofrer ou muito feliz, estavam diluídas pelo nebuloso véu da memória enganadora.
Uso a memória como matéria para o meu oficio de escrever, mas penso que não juraria em nenhum tribunal que o narrado aconteceu exatamente daquela forma. Penso que o que mais nos impregna não são os fatos em si, mas os sentimentos e emoções advindo deles, a interpretação que vamos fazendo no decorrer dos tempos. Não é sem motivo que no mundo jurídico a testemunha é vista como a prostituta das provas – não se pode confiar no que ela diz ter visto ou ouvido sem que exista também uma evidência técnica.
Estava eu lendo a crônica de Ana Toledo (Diversão Filosófica) quando comecei a filosofar – por que a memória nos prega tantas peças que chega a um ponto que duvidamos que certos acontecimentos realmente aconteceram?
A filosofice surgiu a partir dos questionamentos que Ana faz sobre o prazer que é se assentar em um balanço e balançar. Imediatamente me lembrei do balanço que tínhamos no quintal de nossa casa em Arantina e também do belo tombo que levei. Balancei, balancei e caí. O problema memorístico começou aí – não consegui me lembrar como foi que caí do balanço. Não consegui definir se foi o galho que quebrou, a corda que arrebentou ou se eu quis voar alto, cada vez mais alto e acabei foi me estatelando no chão. Não consigo me lembrar também em qual árvore o balanço foi montado. Seria uma jabuticabeira, um abacateiro ou uma mangueira?
Bem me lembro, porém do sentimento – um verdadeiro pavor, pois achei que fosse morrer. Gritei, pedi socorro e ouvi minha voz desaparecendo, saindo esquisita pela minha boca. Socorro, eu estou morrendo. O socorro demorou a aparecer, uma eternidade e acho que realmente só foram olhar o que estava acontecendo porque eu fiquei calada. E aí foi um corre corre um Deus nos acuda! Confessaram depois que não me deram atenção porque, sendo eu muito escandalosa, acharam que eu estivesse brincando.
Daí tentei ativar minha memória relembrando fatos de minha infância e a maioria deles não consegui lembrar com clareza. Situações marcantes que pensei nunca esquecer, que me fizeram sofrer ou muito feliz, estavam diluídas pelo nebuloso véu da memória enganadora.
Uso a memória como matéria para o meu oficio de escrever, mas penso que não juraria em nenhum tribunal que o narrado aconteceu exatamente daquela forma. Penso que o que mais nos impregna não são os fatos em si, mas os sentimentos e emoções advindo deles, a interpretação que vamos fazendo no decorrer dos tempos. Não é sem motivo que no mundo jurídico a testemunha é vista como a prostituta das provas – não se pode confiar no que ela diz ter visto ou ouvido sem que exista também uma evidência técnica.