Dá no mesmo

Eu?

Um homem feio no meio de um dia triste, ou, um homem triste num meio de um dia feio?

Tanto faz.

Encontrei um cão na calçada de casa.

Ele fedia e algumas moscas sobrevoavam suas várias feridas, mas tinha coleira e não era dos magros.

Meus olhos passearam pela rua e resolvi entrar. Essa não é uma estória onde um cão dá uma lição de vida. E que um carro o tenha.

Pensei: vou fazer pipoca, café, e talvez um sanduíche, ligar a televisão, tentar essa coisa de me amar um pouco.

Não. São sete da noite e eu preciso pegar leve. Cada um sorri com os dentes que tem. Além do que, não sofro de derrame e tenho ficha na bibilioteca municipal. É. Ficha.

E no mais, é uma maravilha viver na superficialidade, porque o mundo gira rápido, e se aprofundar...

Bem que o mundo poderia explodir.

BAM!!!

A porta.

Aqui batem na porta, sou pobre, não tenho campainha nem caixa de correio. Os vizinhos riem de mim pelas costas.

- Olá.

- Opa.

- É. Seu telefone. Deve estar funcionando. Foi só um cabo. Creio que a chuva ou um moleque idiota causou estragos.

Okay, dá na no mesmo.

- Valeu.

Fechei a porta. Inclusive tranquei. Se ele fosse um psicicopata, eu estaria ferrado. Tenho a vida toda pela frente. Caralho.

Bom, com o telefone- funcionando- a conversa muda. Posso ligar para as pessoas, combinar um programa interessante, me embebedar na cidade pequena, dormir debaixo de qualquer toldo de qualquer sorveteria e voltar de manhã cedo. Tem que ser cedo. Cambaleando, entregue às moscas e possivelmente, a todas essas, fedendo pouco ou muito como o cão que vi na calçada.

E que os carros me tenham.

R A Ribeiro
Enviado por R A Ribeiro em 21/01/2012
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