Limites

A maior loucura do mundo consiste na passividade dos seres humanos, na tácita aceitação de que tudo tem um motivo divino; que todos estamos fadados aos inóspitos caminhos da vida. Não devíamos aceitar tantas diferenças sociais, e crer que não temos culpa de nada, que tudo não passa de um governo desinteressado na população.

Talvez o governo realmente não seja tão engajado nos problemas sociais, entretanto se questionarmos nossas mentes será que temos realizado tudo o que está ao nosso alcance para vivermos numa sociedade mais igualitária, ou simplesmente subornamos nossas consciências diariamente nos faróis habitados pelas mais sortidas gamas de etnias, jogando aquelas míseras moedas para o mundo cão o qual tanto temos medo.

Será que damos a atenção necessária para nossos entes queridos, ou o rolo compressor chamado futuro diminui toda a massa sentimental que habitava nossos peitos a nada. Atualmente os rostos são confusos no meio do mar de gente, e todos nos portamos como ilhas isoladas do sofrimento alheio. Às vezes esquecemos até que temos família.

Talvez a sociedade atual nos assuste, e por trás de nossos privilegiados cárceres privados sejamos apenas espectadores de um mundo que preferimos milhões de vezes achar que não passa de mais uma estória americana que os cinemas nos mostra.

Talvez estejamos tão anestesiados com todos estes lixos comerciais que somos obrigados a degustar de maneira involuntária, que acreditamos agora que toda a pobreza que existe no mundo não passa de ilusão dos noticiários televisivos, que aquele mundo que os jornais demonstram diariamente não existe realmente no nosso cotidiano. E de maneira cada vez mais indiferente para a sociedade como um todo nós tomamos sucessivas atitudes que não demonstram grandes afincos para com a humanidade e muito menos para com a sociedade que nos abriga.

Talvez sejamos culpados por todos os garotos abandonados, pois indiretamente aceitamos de maneira calma e tranqüila; mesmo que esta aceitação cause uma grande inquietação espiritual; que o óbvio é trabalharmos para conquistarmos tudo o que desejamos e almejamos, e nesta louca galgada ao topo pisamos indiretamente nos menos possibilitados, pois esquecemos que quando brincamos neste jogo de posse nem todos podem participar ao mesmo tempo.

Alguns têm que ter, outros tem que trabalhar para conquistar e os menos favorecidos nunca terão, e apenas por esta razão é que existe a louca roda do capitalismo, onde um tem o que o outro desejava ter e no fundo ninguém está satisfeito com o que lhe cabe. E por isso, e apenas por causa disso sempre passamos os limites que nos são impostos para morder um pouco mais do que pertence ao vizinho. Mesmo que o vizinho não tenha nada.

Mais tudo bem, porque ainda nós restam as maneira mais sujas de compramos nossos perdões, cada um tem uma fórmula mágica, mas no fundo no fundo todos acreditamos que somos merecedores de tudo o que temos, e acreditamos piamente que estamos contribuindo da melhor maneira possível para uma construção de um mundo melhor.

E vocês o que acham?

Diego Lapetina
Enviado por Diego Lapetina em 13/01/2007
Reeditado em 21/06/2009
Código do texto: T345395
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.