Futuro do pretérito
Há muito não passava por lá. Saí de casa antes do horário, calmamente, pisando cada calçada detalhadamente, respirando os ares do início da noite, firme, para não perder a hora com qualquer contratempo que me aparecesse desavisado.
E assim distraído, estava já perto da bem equipada e moderna academia, que possuía um design capaz de chamar a atenção de qualquer sedentário convicto, ou até mesmo de qualquer pessoa interessada em tecnologia e por que não, em arte também. Deusa da beleza, iluminada enviada de Narciso, cercada de cor e de ritmo, surgindo de longe como um luar de verão. Justamente a época de maior procura pela “men sana in corpore sano.”
E eu andando no mesmo ritmo... música eletrônica no black berry, e on line no twitter, claro. Afinal, o mundo não para enquanto a música recomeça. Mas a rua continuava a mesma depois de tanto tempo. O mesmo movimento frenético e cheio de sons noturnos.
Até que esses sons trouxe um que se destacou entre os outros, alto e nítido como parte integrante da noite ou como um morador a mais. Vinha de carro de último modelo, que passava suave, cujo dono ouvia Elvis Presley.
Elvis Presley! O antigo e eterno rei do rock. Vi o passado ressurgir diante dos meus olhos. Vi um baú sendo aberto e explorado em questão de segundos. Era só fechar os olhos e mudar de tempo, de roupa, de voz, de lugar, de verbo. Transitei e entrei em transe. Tudo no ritmo da canção. Elvis Presley!
Com isso lembrei principalmente, em meio a tantas lembranças em preto e branco, que há coisas que não mudam ou não envelhecem. A música atravessa vias, versos e tempos. Não se conjuga. O tempo é exatamente o mesmo. O do ritmo, parado entre os limites do novo e do velho, do passado e do futuro, perpassando o presente. Envolta de atemporalidade, é intocada. Basta tocar.