O Contador de Histórias
O CONTADOR DE HISTÓRIAS
Vovô era um exímio contador de histórias. Porém, não contava aquelas tradicionais, como Branca de Neve, Cinderela, A Bela Adormecida, etc. Não, ele criava suas próprias histórias, para encantar os netinhos. Os títulos eram às vezes até divertidos, porque nestas ocasiões ele satirizava as histórias infantis conhecidas. Lembro-me bem de que uma das suas histórias tinha por título “O Príncipe Assim e o Príncipe Assado”.
Evidentemente, como as histórias não eram escritas, mas brotavam de sua fértil imaginação, a cada vez ele as contava de um jeito diferente. O que também pode ser atribuído não só à criatividade, mas também ao esquecimento. E quando as crianças reclamavam, “mas, vô, a história não era bem assim”, ele respondia dizendo que aquele era um novo capítulo, aventuras novas do mesmo personagem.
Como era muito pequena, não me lembro de todas as histórias, mesmo porque elas variavam muito. Mas algumas marcaram a memória.
Uma das histórias que preferíamos, era a das Três Meninas. A cada vez estas três irmãs iam passar férias em um local diferente, e ocorriam diversas aventuras. Mas ao que nos agradava era o fato de vovô criticar as lições de férias que as meninas tinham que fazer. Afinal, eram férias ou não? E, se eram férias, por que fazer lição e não simplesmente brincar e se divertir? Lógico que este argumento agradava muito àqueles que tinham pela frente as tarefas de casa!
Ríamos muito com a história do Macaco na Loja de Louças, quebrando tudo e dando um prejuízo enorme aos seus donos. Criança gosta mesmo de uma arte! Mas o mais engraçado da história, era o fato do macaco pertencer, como animal de estimação, a um casal de velhos! Quem poderia imaginar um casal de velhos andando por aí com um macaco de coleira, como se fosse, por exemplo, um cão!
Quanto aos príncipes Assim e Assado, eles alternavam o papel de mocinho e bandido. Acho que vovô queria nos ensinar que ninguém é sempre e inteiramente bom ou mau, mas que todos podem ter qualidades e defeitos.
Em dias de festa, movimento na casa, adultos ocupados com mil afazeres, e percebendo que as crianças iriam dar trabalho, era chegado o momento. Vovô sentava-se à sua cadeira de balanço e chamava as crianças para ouvir uma história. O silêncio era imediato, a criançada “vidrada”, esperando o que viria daquela vez.
Dali a pouco chegava um adulto, depois outro, até que por fim, afazeres deixados de lado, estavam todos ali, ao redor de vovô, a ouvir histórias.
Vovô era mesmo um exímio contador de histórias!