O Homem Que Sorria
O Homem Que Sorria
Oito e meia da manhã de uma terça-feira qualquer. No cruzamento, o semáforo abriu, os carros iriam começar a se movimentar.
E tranquilo, no meio da rua, o homem continuava a sorrir e a acenar para alguém na calçada,
Irresponsável, mas, para sorte dele, os motoristas aguardaram, sem sequer buzinar, que ele completasse a travessia.
No mundo de hoje, em que corremos tanto, impossível imaginar alguém com tamanha tranquilidade. Desocupado, ocioso, não parecia ser. A mochila às costas sugeria alguém a caminho ou de volta do trabalho.
Diferente e um tanto surpreendente, o fato de sorrir, um sorriso aberto, franco, alegre. Um tanto inusitado, também, acenar para alguém.
Porque se nos observarmos e aos outros transeuntes, veremos que ninguém sorri ao caminhar pela rua.
Mal olhamos o que se passa ao nosso redor. Se a casa que fia defronte à nossa janela for pintada com todas as cores do arco-íris, talvez levemos meses para notar. Quanto mais olhar para as pessoas que caminham a nosso lado pela rua. E há aí um agradável passatempo.
Cruzamos com apressados, que esbarram em nós. Ou mal humorados, tristes, sérios. Os que falam sozinhos, em longos solilóquios, até mesmo gesticulando ao fazê-lo.
Talvez haja alguns que, como aquele homem, sorriem. Nós é que não os observamos, porque nossa atenção está longe, muito longe. Estamos lá no futuro próximo, nos compromissos e obrigações que nos esperam, no tempo que voa.
Diferente, talvez, não tenha sido o homem que sorria e acenava. Diferente foi o fato de alguém tê-lo notado.