MÃE, FALA SÉRIO!
 
 
     “— Pentelho! Some da minha frente antes que eu te dê uma surra, garoto pentelho!”

(irmão de doze anos, dois anos mais velho)


     Qualquer outra agressão verbal estaria dentro do padrão de normalidade, quando os dois irmãos se estranhavam. Mas “Pentelho!”!?                   Esse termo chulo além de ser novidade na casa, era uma clara evidência da gravidade do que estava acontecendo ou para acontecer. A situação se tornava mais aguda, merecedora de providências imediatas, considerando que a cozinha era o palco do bate-boca. 
     Incontinenti, eu e minha mulher aparecemos no cenário o mais rápido que pudemos, a fim de evitar o desastre anunciado.

     Há que se reconhecer que o irmão mais novo gozava de fama de provocador. Enfim, (perdão), um “pentelho” mesmo...
     A mãe era tida como  bondosa, que tudo perdoava, tudo contemporizava — PhD adquirido no trato com a petizada da escola primária onde ministrava aulas. Eu funcionava como voto de Minerva. Ou como verdugo, dependendo da situação...

     Instalado o “Tribunal”, ouviram-se acusações, defesas, réplicas, tréplicas, até ameaças de vingança...

     —  Crianças, agora chega!
     — Andrey, pede desculpas ao Niltinho e promete que não vai mais mexer no doce de leite dele.  Você nem liga pra doce!
      — Niltinho, guarda o que sobrou do doce e fecha a porta da geladeira!    Amanhã compramos mais um pote. Andrey só tava  querendo mexer com você, meu filho... Ele estava só brincando...

     — Brincando, mãe!? 
    
     —  É... brincando...
     —  MAS COM DOCE NÃO SE BRINCA, MÃE!


Foto: o que sobrou do doce de leite.