O SEQUESTRO
José Manoel entrou esbaforido em sua sala. Como iria resolver o problema? Maldita hora que resolveu tomar aquele café! A culpa só poderia ser daquela bela garçonete que lhe roubara – de modo extremamente impetuoso – a atenção, com aquele sorriso branco, aquela voz macia, uma simpatia só. Não fosse a distração, não deixaria sua vida sobre aquela pequena mesa.
Agora recebeu a fatídica ligação em seu telefone residencial: seu celular foi seqüestrado, sua existência estava prestes a terminar. Seu aparelhinho de estimação estava em bandidas e inescrupulosas mãos. Deveria pagar o resgate? Não. Não pagaria o resgate. Mas e sua agenda telefônica, suas fotos, senhas de banco e internet, datas de aniversário? Fazia tudo pelo seu aparelhinho... Assistia televisão, jogava vídeo game, namorava, fazia ligações, até! Enfim, conectava-se com o mundo e consigo mesmo. Sem ele não tinha memória, não tinha passado, não era ninguém, não tinha vida. Sim, pagaria o resgate.
E se eles não cumprissem o combinado? E se apagassem as informações? Deveria chamar a polícia? Agora era tarde demais, já estava com o dinheiro, prestes a fazer a troca...
Chegou em casa mais esbaforido que da última vez. Aparelhinho querido em mãos. Bateria descarregada. Correu com o carregador. Plugou-o na tomada.
Seu passado foi deletado.