“COMEÇO DE VIDA”

“Há várias medidas para medir a vontade humana. A mais exata e a mais segura é a que se exprime por esta questão: de que esforço és capaz?”

(William James)

Depois que voltei para minha cidade natal, passei por sérias dificuldades financeiras, tinha sido aprovado em um concurso público federal, mas não fora chamado ainda. Minha mulher estava nos últimos meses de gravidez e a conta bancária minguando, dia após dia. Apesar de tudo isso, a expectativa de melhora nunca me abandonou. Nessa fase, contratempos e empecilhos não faltaram, uns maiores outros menores. Enfim, todas essas experiências serviram para moldar e quem sabe melhorar meu espírito. Agora, depois de tanto tempo, aproveitei para relembrar algumas delas.

Naquela ocasião, quando fui registrar minha filhinha no cartório local, a tabeliã na hora do preenchimento da certidão de nascimento, perguntou-me a profissão. Parece que o fato de possuir grau de educação superior resultou em pagamento maior do que habitualmente cobrado. Pois, pelo mesmo serviço outras pessoas pagaram a metade que paguei. Não reclamei, apesar de sair dali magoado com a injustiça praticada.

Ademais, estava no início de profissão, meus ganhos mal davam para pagar as despesas de meu consultório odontológico. Não fosse a ajuda recebida de minha mãe, a situação seria insustentável. Para piorar o quadro, toda semana viajava para capital, para terminar um curso de especialização. O dinheiro para anuidade foi em parte também custeado pela minha progenitora.

Embarcava no ônibus da “Real Expresso” e desembarcava em S. Paulo, depois de 8 horas de viagem. Saía de Uberaba na sexta feira á noite, chegando de manhã de sábado. À tarde do mesmo dia, fazia o caminho inverso, chegando ás duas da manhã do domingo. Na ida, não tomava táxi, pois minha mãe me levava em seu Passat branco. Quando voltava, da rodoviária prá casa, fazia o percurso a pé. Uma caminhada de mais de 30 minutos, essa “peregrinação” durou mais de um ano.

Para a viagem, juntamente com os apetrechos escolares, levava um lanche preparado por minha mãe. Assim, o almoço era composto de pão com molho (carne moída, tomate e pimenta), por sinal muito delicioso. A condição sócio-econômica de meus colegas de curso era evidentemente bem superior a minha. Todavia, nunca senti discriminação por parte deles, ao contrário, a relação entre nós era excelente. No entanto, alguns professores me tratavam de forma diferente. Naturalmente, procurei apoiar-me nos docentes que simpatizavam comigo e o curso se desenvolveu sem maiores contratempos.

Em determinado dia,chegando a rodoviária de minha cidade as duas horas da manhã, enfrentei uma chuva torrencial na volta prá casa. Quando iniciei o percurso, um ônibus sem passageiros parou perto de mim e o motorista ofereceu-me carona. Olhei para aquele desconhecido, como estivesse olhando para alguma divindade e entrei imediatamente no veículo. Fiquei eternamente grato a ele, que Deus o abençoe! Assim, meu COMEÇO DE VIDA não foi nada fácil, mas hoje, felizmente conquistei uma condição de vida mais tranquila, sob todos os aspectos.

João da Cruz
Enviado por João da Cruz em 19/01/2012
Reeditado em 19/01/2012
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