Pinheirinhos: uma velha história contada mais uma vez
É inevitável! O Vale do Paraíba sempre ganha um espaçinho no noticiário nacional, mas nem sempre por bons motivos. Ano passado foi Roberto Peixoto e seu esquema, agora a história é sobre a desapropriação de Pinheirinhos em São José dos Campos.
São José dos Campos. A maior cidade do Vale do Paraíba. E isso podemos dizer sem nem piscar duas vezes. É natural que sendo uma cidade grande sofra dos problemas das cidades grandes e a habitação irregular é um dos maiores destes problemas. Maior fluxo de gente chega na cidade á procura de emprego. O aluguel é alto no centro, vai para a periferia, constrói a casa num pedaço de terra qualquer (geralmente perto de algum córrego). A casa que antes era sozinha vai ganhando companhia e cada vez mais, mais e mais companhia e quando as autoridades públicas reconhecem que a área não pode ser ocupada, quem diria, já existem pessoas morando lá.
A morosidade da fiscalização tenta ser compensada com a atitude enérgica da polícia em retirar os moradores. A imprensa noticia o drama, a guerra. Do pessoal expulso mais da metade irá para outro ponto da cidade e construirá um novo Pinheirinhos. E assim resolvemos o problema? Não, só é resolvido o problema imediato, a retirada do povo pra construir a tal obra.
A história é conhecida de todos nós. Já aconteceu aqui em Manaus no Bairro da Paz, no Tarumã. Já aconteceu em São Paulo, em Higienópolis. Já aconteceu em muitos lugares. E mais uma vez nada de novo.
O que pode ser feito não é só proibir a construção de bairros clandestinos como esse. Clandestino sim, porque ele é feito na ilegalidade e seus moradores não desfrutam da cidadania e sim da subcidadania, como diria Roberto DaMatta. A cidadania mesmo é só no centro da cidade. Ora, o que pode ser feito é contemplar no plano diretor da cidade, o que define como serão as politicas públicas do município, estes novos bairros, tirá-los da clandestinidade, do improviso, da precariedade. Mas isso já é feito, o que não é feito é a ação em si. Na hora de se construir um centro recreativo, asfaltar as ruas, cadê o dinheiro? Desvio de verbas.
Mas verdade seja dita, o poder público não é o único culpado. A população também tem seus grãos de culpa ao ocupar áreas de risco. Ora, margem de rio pode ser muito cômodo, mas todo mundo sabe que quando chove alguma coisa sempre desbarranca. Escalpelar a vegetação local também ajuda os deslizamentos. Lixo acumulando na rua ou nos rios também. Os noticiários frequentes sobre as enchentes, os quais somos infelizmente presenteados a cada ano, já cansaram de mostrar isso. É preciso conscientizar mais ainda. É preciso conscientização de nossa população e ação sensata de nossos políticos. Os feitos dos nossos ministros, que levou a maioria deles á sua consequente queda, só aumenta o meu pessimismo em relação á quão perto estamos de se chegar á essa situação.