É só esticar o braço

 

 

Certa vez, depois da muito procurar, encontrei o sofá que eu queria e mesmo achando um pouco caro, comprei. No dia da entrega chegaram dois. Então eu disse aos rapazes que não estava certo, podiam levar o outro. Mas eles insistiram, mostraram a nota. Telefonei para a loja e a moça gentilmente explicou que eu havia comprado o conjunto, um de três lugares e outro de dois, eles não vendiam sofás separados! Já que era assim, tive que me desfazer de duas velhas poltroninhas para que eles coubessem na sala e lá ficaram por muitos anos. Depois que foram renovados, quer dizer, com o tecido trocado, é que os separei levando o menorzinho para o escritório.

 

Desde aquela época a moda pegou, quase não se vê mais poltronas. Mas eu gosto delas. A gente fica bem instalada para leituras ou assistir televisão. Num sofá, em geral nos viramos de lado para conversar ou então vamos nos largando... as costas escorregam, os pés parece que pedem para subir. Em dois tempos nos vemos de pernas esticadas em cima dele, puxamos um almofadão para apoiar a cabeça e daí a tirar uma soneca é um pulo. Os jovens que o digam, sempre monopolizam o sofá. Os famosos ‘três lugares’ viram de uma pessoa só.

 

E quando há mais gente, já repararam? Três pessoas sentam-se bem comportadas, cada qual no limite de sua almofada, cuidando para não incomodar o vizinho. E a do meio sofre, não tem onde apoiar os braços! E ainda fica debaixo do fogo cruzado das palavras daqueles que estão nas beiradas, olhando ora para um, ora para outro. Resultado: o sofá de três lugares é bom mesmo para dois. E pessoas que não são namorados estão lá no outro sofazinho? Sentem-se oprimidas... O pequeno é bom para um só.

 

É verdade que agora há sofás com dispositivo ‘esticável’ justamente para as pernas, mas as salas têm que ser tão grandes...

 

Em dias de reunião, o melhor de tudo é conversar em volta da mesa, cada qual aboletado em sua cadeira, com o copo bem à frente e os petiscos ali pertinho. É só esticar o braço.