NAUFRÁGIO EM POÇA RASA
Este é dia em que os céus parecem derreter-se em lágrimas. São gotas copiosas que se desprendem lá das alturas. E nuvens entumercidas carregam cores indicativas de que nenhuma mudança há no horizonte.
Aqui embaixo, mananciais recompõem-se e abastecem rios e açudes. O solo torna-se fértil para uma colheita promissora. Cascatas, cachoeiras e quedas livres animam a fauna e extasiam olhares; realçam a magnificência da natureza.
Ao coração ... Ah, ao coração! Bom seria que nele o líquido cristalino fizesse brotar mais amor, que caulificasse esperanças e amadurecesse frutos da vida. Irrigada, a alma faria pulsar mais fé, mais temperança, mais certeza no amanhã. A alegria não conheceria estiagem e a felicidade sorriria saudável.
Lá fora, a hietometria engendra planos aquosos, a correr e escorrer em movimentos errantes e oscilatórios; a produzir espetaculares fenômenos sob raios luminosos, perpendiculares, que, observam-se, já incidem. Dentro do peito, em contraste, o tempo continua fechado, o sorriso nublado, a alegria envolta em trevas.
O vapor da água antes condensada na atmosfera traz prognóstico encorajador: faz bem. Clima menos desanuviado registra o udômetro no coração; este, que, desidratado, naufraga em cova de lágrimas passionais.
A chuva cai e umidece a terra; é a garantia de um chão fecundo. Precipitação no amor, ao contrário, emudece e afoga o amor, que se evapora. A paixão será árida como um dia turvo e estéril.