NAUFRÁGIO EM POÇA RASA

Este é dia em que os céus parecem derreter-se em lágrimas. São gotas copiosas que se desprendem lá das alturas. E nuvens entumercidas carregam cores indicativas de que nenhuma mudança há no horizonte.

Aqui embaixo, mananciais recompõem-se e abastecem rios e açudes. O solo torna-se fértil para uma colheita promissora. Cascatas, cachoeiras e quedas livres animam a fauna e extasiam olhares; realçam a magnificência da natureza.

Ao coração ... Ah, ao coração! Bom seria que nele o líquido cristalino fizesse brotar mais amor, que caulificasse esperanças e amadurecesse frutos da vida. Irrigada, a alma faria pulsar mais fé, mais temperança, mais certeza no amanhã. A alegria não conheceria estiagem e a felicidade sorriria saudável.

Lá fora, a hietometria engendra planos aquosos, a correr e escorrer em movimentos errantes e oscilatórios; a produzir espetaculares fenômenos sob raios luminosos, perpendiculares, que, observam-se, já incidem. Dentro do peito, em contraste, o tempo continua fechado, o sorriso nublado, a alegria envolta em trevas.

O vapor da água antes condensada na atmosfera traz prognóstico encorajador: faz bem. Clima menos desanuviado registra o udômetro no coração; este, que, desidratado, naufraga em cova de lágrimas passionais.

A chuva cai e umidece a terra; é a garantia de um chão fecundo. Precipitação no amor, ao contrário, emudece e afoga o amor, que se evapora. A paixão será árida como um dia turvo e estéril.

Israel dos Santos
Enviado por Israel dos Santos em 18/01/2012
Reeditado em 09/02/2012
Código do texto: T3448498
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.