NOS MEUS TEMPOS DE BOM CONSELHO
Por Carlos Sena
Nos meus tempos de Bom Conselho, ninguém falava “fulano se acha”. Dizia-se que fulano só que ser a bala que matou Getúlio. Alternava-se com “fulano só quer ser as polegadas de Marta Rocha (para os mais jovens, tratava-se das polegadas que faltaram para a Miss Brasil ser miss universo).
Nos meus tempos de Bom Conselho, ninguém dizia que fulano era um tesão. Dizia-se que fulano era um pão. Alternava-se com fulano é um chuchuzinho.
Nos meus tempos de Bom Conselho, ninguém dizia que ia a uma balada. Dizia-se que ia a um assustado. Alternava-se com ir a um baile (hoje baile é uma bronca, ou bale). Se fosse a tarde, matinê e à noite, soirée.
Nos meus tempos de Bom Conselho, ninguém dizia que ia ao happy hour. A agente dizia que ia se encontrar na “boquinha da noite” para beber. Alternava-se com na “boquinha da noite” tomar cana.
Nos meus tempos de Bom Conselho, a gente perguntava se o outro sabia aquela cantiga, hoje música; xingava a menina metida a besta chamando-a de rapariga, hoje puta; a gente não fazia no colégio educação física, mas ginástica. Vestir roupa de gala, nos meus tempos de Bom Conselho era tomar susto com a expressão, posto que gala era esperma. Chamar uma moça de perdida era dizer que era puta. Puta, por sua vez vivia na zona, no cabaré (hoje em todo lugar com pose de família) e “ricurso” era alternativa de cabaré, só que mais discreto e mantido por uma “testa” de ferro (hoje laranja). Talvez hoje LA BELLE DE JOUR não fosse ao cabaré, mas ao recurso.
Nos meus tempos de Bom Conselho o sapato era “escatamack”, o corte de cabelo jacdemes, a sandália era xô boi, a roupa não era coloria nem prêt-a-porter, nem se ia ao cabeleireiro, mas ao barbeiro (lembro de Seu Zé Colarinho). Poucos tinham relógio de pulso e a gente chamava roscoff querendo dizer que era ruim, xing-ling, como dizemos hoje. (palavras afrancesadas foram grafadas na tora)
Nos meus tempos de Bom Conselho não havia gay, mas “falso a bandeira”, frango mesmo. Sapatão? Nem pensar. Nos meus tempos de Bom conselho, chamava-se pitomba – alusão inteligente às mulheres sapatas, pela lógica de que elas andam sempre juntas e as pitombas também, posto que dão de cacho.
Nos meus tempos de Bom Conselho aluno estudioso não era CDF, mas laureado. Aluno não matava aula, mas gazeava; não era reprovado, mas levava pau (se fosse hoje era insinuação homo); aluno também não colava, mas filava. Nos meus tempos de Bom Conselho aluno era reprovado, era suspenso das aulas por portaria no flanelógrafo da escola e, não raro, levava pra casa bilhete da professora reclamando dele próprio ou chamando os pais para uma conversa.
Nos meus tempos de Bom Conselho, os pais nos repreendiam com um olhar, davam-nos ordens e nós obedecíamos. Os pais davam palmados, puxões de orelhas, usavam palmatórias e não tinha psicologismos nem patrulhamentos idiotas por perto... Nos meus tempos de Bom Conselho a gente sabia o que queria quando crescesse e sabia que o que é dos outros não é nosso... Nos meus tempos de Bom Conselho, todos os meus colegas de grupo escolar, do Ginásio São Geraldo e do Colégio Estadual, em sua grande maioria hoje estão formados e muitos com destaques Gerenciais, Educacionais, Artísticos, etc., pelo Brasil afora. Nos meus tempos de Bom Conselho eu já era feliz como continuo hoje: não tomo remédio controlado, não fumo maconha, não cheiro cocaína, não sou sacana com o próximo. Trabalho e tenho minhas coisas, meus amigos, meus amores, meus sabores... Meus sabores? Pode ser que não sejam mais de fruta de palma, nem de umbu cajá, nem de palma, nem de mandacaru, nem de velame, macambira ou da folha do ariú... Meus sabores são como meus apitos... Eu os toco na medida do meu prazer e da minha conveniência, desde que não incomodem quem esteja por perto...
Por Carlos Sena
Nos meus tempos de Bom Conselho, ninguém falava “fulano se acha”. Dizia-se que fulano só que ser a bala que matou Getúlio. Alternava-se com “fulano só quer ser as polegadas de Marta Rocha (para os mais jovens, tratava-se das polegadas que faltaram para a Miss Brasil ser miss universo).
Nos meus tempos de Bom Conselho, ninguém dizia que fulano era um tesão. Dizia-se que fulano era um pão. Alternava-se com fulano é um chuchuzinho.
Nos meus tempos de Bom Conselho, ninguém dizia que ia a uma balada. Dizia-se que ia a um assustado. Alternava-se com ir a um baile (hoje baile é uma bronca, ou bale). Se fosse a tarde, matinê e à noite, soirée.
Nos meus tempos de Bom Conselho, ninguém dizia que ia ao happy hour. A agente dizia que ia se encontrar na “boquinha da noite” para beber. Alternava-se com na “boquinha da noite” tomar cana.
Nos meus tempos de Bom Conselho, a gente perguntava se o outro sabia aquela cantiga, hoje música; xingava a menina metida a besta chamando-a de rapariga, hoje puta; a gente não fazia no colégio educação física, mas ginástica. Vestir roupa de gala, nos meus tempos de Bom Conselho era tomar susto com a expressão, posto que gala era esperma. Chamar uma moça de perdida era dizer que era puta. Puta, por sua vez vivia na zona, no cabaré (hoje em todo lugar com pose de família) e “ricurso” era alternativa de cabaré, só que mais discreto e mantido por uma “testa” de ferro (hoje laranja). Talvez hoje LA BELLE DE JOUR não fosse ao cabaré, mas ao recurso.
Nos meus tempos de Bom Conselho o sapato era “escatamack”, o corte de cabelo jacdemes, a sandália era xô boi, a roupa não era coloria nem prêt-a-porter, nem se ia ao cabeleireiro, mas ao barbeiro (lembro de Seu Zé Colarinho). Poucos tinham relógio de pulso e a gente chamava roscoff querendo dizer que era ruim, xing-ling, como dizemos hoje. (palavras afrancesadas foram grafadas na tora)
Nos meus tempos de Bom Conselho não havia gay, mas “falso a bandeira”, frango mesmo. Sapatão? Nem pensar. Nos meus tempos de Bom conselho, chamava-se pitomba – alusão inteligente às mulheres sapatas, pela lógica de que elas andam sempre juntas e as pitombas também, posto que dão de cacho.
Nos meus tempos de Bom Conselho aluno estudioso não era CDF, mas laureado. Aluno não matava aula, mas gazeava; não era reprovado, mas levava pau (se fosse hoje era insinuação homo); aluno também não colava, mas filava. Nos meus tempos de Bom Conselho aluno era reprovado, era suspenso das aulas por portaria no flanelógrafo da escola e, não raro, levava pra casa bilhete da professora reclamando dele próprio ou chamando os pais para uma conversa.
Nos meus tempos de Bom Conselho, os pais nos repreendiam com um olhar, davam-nos ordens e nós obedecíamos. Os pais davam palmados, puxões de orelhas, usavam palmatórias e não tinha psicologismos nem patrulhamentos idiotas por perto... Nos meus tempos de Bom Conselho a gente sabia o que queria quando crescesse e sabia que o que é dos outros não é nosso... Nos meus tempos de Bom Conselho, todos os meus colegas de grupo escolar, do Ginásio São Geraldo e do Colégio Estadual, em sua grande maioria hoje estão formados e muitos com destaques Gerenciais, Educacionais, Artísticos, etc., pelo Brasil afora. Nos meus tempos de Bom Conselho eu já era feliz como continuo hoje: não tomo remédio controlado, não fumo maconha, não cheiro cocaína, não sou sacana com o próximo. Trabalho e tenho minhas coisas, meus amigos, meus amores, meus sabores... Meus sabores? Pode ser que não sejam mais de fruta de palma, nem de umbu cajá, nem de palma, nem de mandacaru, nem de velame, macambira ou da folha do ariú... Meus sabores são como meus apitos... Eu os toco na medida do meu prazer e da minha conveniência, desde que não incomodem quem esteja por perto...