OSSO DURO DE ROER!
OSSO DURO DE ROER!
Ouvir esta sentença fazia quase que parte do meu cotidiano de moleque, especialmente porque era dita por um dos parentes mais chegados. Havia algum problema para ser resolvido, era fatal! Algo não dava certo sua vida, lá estava ela! Para simplificar, a vida para ele, era um osso duro de roer. Talvez seja até por isto que somente muitos anos mais tarde, mudei de opinião quanto a roer um osso de costela ou de coxa de frango. Todos faziam e se deleitavam com aquilo. Menos eu! De tão acostumado que estava a ouvir que o osso era duro de roer, que tal façanha estava fora de cogitação. Poderia até quebrar os dentes, ora! Imagine pensar em sorrir para aquela menina do vizinho, com a janela panorâmica provocada pelo osso duro de roer. Então, nada de arriscar.
Anos mais tarde depois de já aparecerem os primeiros fiapos de bigode debaixo do nariz, comecei entender o que realmente o parente queria dizer com seu osso duro de roer. O primeiro emprego então, parecia estar determinado a me moer, mas decidi então também provar que poderia ser um osso duro para fazê-lo. E para meu espanto, havia achado de repente, o outro lado da moeda. Esta descoberta me deixava mais forte, determinado, resistente e sempre pronto a enfrentar novos desafios, porque afinal de contas eu aprendera a também ser um osso duro de roer.
Até que um dia tentando provar ser duro, ouvi de que não precisava ter tanta pressa em roer, que o devia fazer devagar, mas sempre. Assim, roeria todos os ossos de meu caminho, e poderia então, com os dentes bem afiados, encontrar um pedaço de filé bem macio para morder! E sem precisar um osso duro de roer.
Antonio Jorge Rettenmaier, Cronista, Escritor e Palestrante. Esta crônica está em mais de noventa jornais impressos e eletrônicos no Brasil e exterior. Contatos, ajrs010@gmail.com