A nossa corrida contra o Tempo

Tantos compromissos para um só dia.

Pagamentos, extratos, contas, consultas, trabalho, estudo, transporte, horas marcadas.

Eu vivo num mundo que não me pertence mais.

Dôo as minhas melhores horas para os meios de comunicação, de trabalho e de estudo. Poucas vezes fico frente ao melhor de mim... A minha Sensibilidade.

A rotina alucinante do dia-a-dia me absorve. Aliena-me do melhor dos mundos... O meu interior.

Cansado o meu corpo procura relaxar o meu espírito

E nas poucas horas que me pertencem eu as jogo em sono profundo.

Muitas vezes quando fico sozinho comigo mesmo sinto-me como dois estranhos habitando um mesmo corpo.

Quantas palavras ditas por mim... Soam estranhas num momento a sós.

Na maioria das vezes é o que todo mundo me leva a responder, a agir, a sentir. O que se espera de mim.

Sou apenas reflexo da mídia, dos meios que me cercam, do mundo que me entorpece.

Dosar tantas situações, diluir elas, decantá-las tornou-se um dilema e a cada dia mais difícil.

É amostra do nosso tempo. Um tempo que não nos pertence mais.

Tanto assim é que maravilhado fico com uma peça de teatro, um filme onde se retrata o amor, o carinho, o discernimento, o tempo não como um devorador das minhas horas, mas sim como um provedor para os meus sentimentos.

Tolhido pela corrida contra o tempo os meus sonhos se esmorecem facilmente... Perdem a sua identidade, tornando-se apenas um simples desejo.

Preciso cada vez de mais horas extras, mais acréscimos de minutos, para viver minha plenitude. E preciso cada vez mais de novos sonhos, de mais sonhos com hora e data marcada.

Busco uma realização que seria para dias, meses, anos ou talvez até uma vida inteira em um simples minuto, numa simples hora. Depois jogo fora ela como se fosse algo inútil e também toda a minha luta por esta conquista torna-se mera ilusão... Como se ela fosse apenas uma provação para eu sobreviver um dia a mais.

Hoje olho tanta materialidade, tanto conforto, reduzimos tanto as distâncias sobre os pneus, sobre as asas, sobre as águas... Mas na mesma velocidade vertiginosa dos meios de comunicação, atabalhoado eu estou ficando mais longe de meus amores, das minhas verdadeiras emoções.

Não precisarei da idade para os novos descobrimentos, bastará um clicar de botão e tudo se mostrará desnudo na minha frente... Mas este mesmo clicar dominará a minha alma e a tornará vazia e eu cada vez mais sem sentido para viver.

Quantas palavras de amor a um filho, a um pai, a uma mãe foram apagadas por um ponteiro de relógio que teimava em se adiantar e mostrar o mundo da pressa, da necessidade.

Hoje vemos que mesmo pagando tantas dívidas materiais, dívidas sentimentais muito maiores foram deixadas por pagar.

Não existe um meio-amor, uma meia-felicidade... Não existe um amor para meia hora depois, para semana que vem, no final da formatura, no final da luta.

Porque a Felicidade deve ser perene e ela pode estar somente no coração... Sem hora marcada, sem destino final...

Ela nunca poderá estar em único coração... Seria egoísmo, falsidade, hipocrisia.

Ela deve estar em dois corações...

Em três corações...

Em tantos quantos a aceitarem.

A Felicidade será insignificante... Tanto quanto insignificante nós formos.

Não basta eu amar, a minha felicidade tem que se refletir nos olhos de quem também eu amo...

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A Felicidade pode estar na simplicidade, no luxo, aonde a complexidade de duas ou mais personalidades procuram um só caminho... O Amor deve ser recíproco senão nunca será amor.

Não veja o tempo como um devorador das tuas horas, mas sim, como um provedor para os teus melhores sentimentos.

Robertson
Enviado por Robertson em 17/01/2012
Reeditado em 17/01/2012
Código do texto: T3446622