SE CHOREI OU SE SORRI...
Meus sessenta anos, bem vividos em certas épocas, mal vividos em outras, representam minha história de vida até aqui. Olhando por cima do ombro vislumbro momentos tão antigos que me parecem estranhos hoje, como se outra pessoa fosse o ator de certas cenas. Ou como se eu os tivesse vivenciado em outra vida. Lugares onde morei, lugares por onde andei, parecem estradas empoeiradas a obscurecer a visão dos fatos. Pessoas que convivi, pessoas por quem passei, outras que pensei amar estão, hoje, como pinturas desbotadas numa tela nublada por teias de aranha. Pensamentos, atitudes, alegrias, tristezas, tudo partiu e desapareceu a semelhança de um vagão de trem sumindo em uma curva.
As diferenças das situações do ontem e do hoje são tantas que me sinto estranha. Obviamente o corpo sofreu as intempéries da vida. Certamente a alma evoluiu, os conceitos amadureceram, a espiritualidade sofreu mudanças. No viver e nas vivências aprendi, entre erros e acertos. Mais com os erros, pois os tombos, ao nos machucarem, gravam mais forte no nosso subconsciente e um alerta surge quando tentamos nos aventurar pelos mesmos rumos que nos ralaram os joelhos. Por outro lado, os acertos ficam guardados como um troféu na gavetinha do coração e são um lenitivo sempre que nos sentimos carentes de um incentivo.
Meus sessenta anos estão ai. Assim como eu. E, plagiando o meu ídolo de toda uma vida, eu diria: "Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi..."