SER DIFERENTE É NORMAL

Certo dia, voltando de minha querida cidade natal, acompanhada de meu filho Jorge Luiz, (portador de necessidades especiais), passei por uma rua e cumprimentei um grupo de amigos e conterrâneos que estava em uma calçada, com um alegre "bom dia".

Todo mundo respondeu ao meu cumprimento e, qual não foi a minha surpresa, quando, mais ou menos uns dez metros à frente, eu ouvi, de um senhor, a pergunta: "Esse é o filho doido que ela tem, não é?"

Confesso que o sangue me gelou nas veias. Senti um aperto no coração, uma vontade de chorar ou de dizer umas boas verdades àquele senhor. Mas por respeito ao meu filho Jorginho, que estava comigo e que tudo ouviu, contive-me e ainda tive que arranjar um bom disfarce.

Olhei para trás. Parei um pouco. Respirei fundo e prossegui a caminhada ao lado do meu homem/menino, de 30 anos de idade, com cabeça de criança, como, às vezes, ele mesmo diz. Meu filho me perguntou o que aquele senhor havia dito. Eu respondi que nada de importante. Apenas ele havia comentado algo que eu nem sequer havia escutado direito, uma asneira qualquer.

Tomamos o ônibus de volta para casa e eu fiquei imaginando a dificuldade que esses seres humanos especiais, escolhidos por Deus como "revelação de seus desígnios", enfrentam aqui no planeta Terra, entre nós, os ditos "normais", portadores de tantos defeitos e anomalias espirituais que sequer podemos entender e conviver com aqueles a quem o Criador fez diferentes de nós.

Quando somos designados para vir ao mundo, não temos o poder de escolher raça, porte físico, saúde, sexo, nem família à qual vamos pertencer. Nascemos para viver a nossa mensagem que nada mais é que a mensagem do próprio Deus. Podemos, sim, burilar o nosso caráter, evoluir espiritualmente, de uma forma tão imensa e maravilhosa que, não obstante tenhamos defeitos e deformidades físicas e psíquicas, podemos parecer perfeitos aos olhos de quem nos ama e nos respeita. É assim, creio, que o pai Celestial nos vê - sem defeito algum. Ele nos ama. Pouco lhe importa se nos falta um membro, se nos afeta um mal qualquer.

O preconceito, além de crime, é um sentimento ignóbil que só serve para aviltar o caráter e o espírito daquele que o adota. O mundo seria diferente se quando uma pessoa quisesse se referir à outra não usasse de predicativos como doidos, mongolóides, imbecis, coxos, pretos, maricas, prostitutas e tantos outros mais. Ao invés disso, pudesse olhar para o seu semelhante, buscando em sua alma o que há de mais belo e mais puro, procurando extrair, do outro, todo o bem que estiver depositado no recôndito do seu coração. Seria maravilhoso se pudéssemos viver em condomínio de paz: cada um com as suas diferenças, suas limitações,Todavia, em uma atmosfera de bastante respeito e amor, exercitando as palavras do mestre Jesus - "Ama ao próximo como a ti mesmo" - porque só assim seria válida a nossa existência. E só assim seríamos dignos de habitar, um dia, todos em igualdade de condições, a morada que o Criador reserva para nós.

Nós, pais e mães, temos o dever de amar e amparar, em quaisquer circunstâncias, os nossos meninos e meninas, dando-lhes bons exemplos e ensinando-lhes, com paciência e perseverança, o essencial para a formação cívica, moral, intelectual e espiritual dos mesmos. Quanto aos filhos portadores de deficiência, é através deles, de suas dificuldades, que crescemos em espírito e sabedoria, pois, afinal, diante de Deus, também somos especiais.

Maria do Socorro Domingos S. Silva

João Pessoa, 17/01/2012

Mariamaria JPessoa Pb
Enviado por Mariamaria JPessoa Pb em 17/01/2012
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