As Poças são? I e II

I

As Poças são?

(Versão seca)

Um local à beira-mar?

Ontem pedraria e musgo, hoje areia e cimento?

Cujo espelho defronte é uma quase ilha?

Quase ao alcance da mão?

Que anda no fundo do mar quando o tempo está fechado e nada à tona da água quando faz sol?

Com o sol a mergulhar ao largo da ponta de Santo António no pino do Verão e a ficar por detrás do pico da Maminha no auge do Inverno?

Ou a sair por detrás do Palheiro no Verão ou a aparecer por detrás das Lombadas no Inverno?

Ou das luzes do casario que se acendem até ao romper do dia?

O que interessa é que ao mergulharmos nestas Poças, mergulhamos em todas as Poças.

E por que será? Não será porque as Poças são banhos de cheiros, de sons, de luz, de sabores, e cores e de memórias que nos limpam o corpo e a alma, nos recarregam o corpo e a alma, que não tendo nada de único são únicas?

É o primeiro sítio a que regressamos depois do Mundo nos desabar em cima. Ou quando o Mundo nos dá asas. E sentimos: se foi lá que nascemos, é lá que renascemos e é lá que vivemos.

Não será por isso que estas Poças ou quaisquer outras Poças, nos atraem?

II

As Poças são?

(versão temperada)

Apenas um local aprazível à beira do mar?

Antes aperto de pedraria e musgo, hoje desafogo de areia e cimento?

Cujo espelho defronte é uma quase ilha defronte?

Quase ao rés vês do alcance de uma mão estendida?

Que anda sumida no fundo do mar em dias de espessa neblina e nada à tona da água em dias de sol aberto?

Com o sol a deitar-se morno nas águas ao largo da ponta de Santo António no pino do Verão e a aconchegar-se friorento por detrás do pico da Maminha no auge do Inverno?

Ou a acordar voluptuoso por detrás do Palheiro no Verão ou a despertar preguiçoso por detrás das Lombadas no Inverno?

Ou das luzes do casario que se acendem como brasas noite dentro até ao romper do dia?

Sendo isso importante, não será assim tão importante.

Porque o importante será antes saber que, ao mergulharmos nestas Poças, mergulhamos em todas as Poças.

Será ainda saber que elas são o primeiro sítio a que regressamos depois do Mundo nos desabar em cima. Ou quando o Mundo nos dá asas. E sentimos:

se foi lá que nascemos, é lá que renascemos e é lá que vivemos.

E por que será?

Não será porque as Poças são banhos de cheiros, de sons, de luz, de sabores, e cores e de memórias que nos limpam o corpo e a alma, nos recarregam o corpo e a alma, que não tendo nada de único são únicas?

Não será por isso que estas Poças aqui ou todas as Poças por aí, gozam esse sortilégio?

Mário Moura

Ribeira Grande

16 de Janeiro de 2012

Mário Moura
Enviado por Mário Moura em 17/01/2012
Código do texto: T3445965
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