A praia no Rio de Janeiro
A praia no Rio de Janeiro
Algo de diferente acontece a cada verão: uma sensação que o seu lar está quente e insuportável e o sol convida teu caminhar para a praia. A praia, o maior misturador social do Rio de Janeiro, um espetáculo à parte da fauna humana. Todos vão: velhos, meninos e babás, malhados e sarados, tarados e gordinhos, bêbados e os incompreensíveis tímidos à sombra. Os ricos passam poderosos em carros conversíveis. Motos aceleram com bundas maravilhosamente adornadas de biquínis ínfimos. O amor também aparece, nos pequenos gestos, nos cachorrinhos de língua prá fora, nos namorados imunes às atividades físicas, nos beijos molhados de sal.
Há uma desavergonhada postura do carioca, o povo está sem a mínima paciência para autocrítica, todos se respeitam no olhar menos crítico e mais social. A gorda passa bunduda na frente da gostosa da academia. O careca toma seu chope e ri da aflição dos malhados rapazes que se jogam na areia quente, a bola do vôlei ali, zunindo, furando o ar fervente, os pés queimando. Praia, esporte e beleza. Loucos e tarados. Mulheres todas nuas, febris, sombras são poucas, muito é o mar... Esse é o acalanto de todos, ali azul ou verde, mural de acolhimento, o mais social de todos.
Um mergulho fura a água, a moça se assusta, o velho nem liga... É o calor gerando a união total da população ávida por um mar e uma conversa fiada, um chope vai coroar a língua seca do atleta de fim de semana, o bar abençoando o fim do dia, alegria.
E ela lá, eterna, parada e de braços abertos como o Cristo Redentor, abraçando o povo. O samba já acontece, o sol já vem mostrando-se mais forte, um vento traz uma carícia nova nas peles suadas, o dia teima em se acabar. O carioca de verdade não foge, espera, na atenção total ao Deus Sol que ali termina seu expediente. Palmas, muitas palmas para ele, glorioso pai do verão, criador de muitos amores e sabores, o sol, mutante.
Amanhã nos veremos lá com sol ou sem sol, na praia, no Rio de Janeiro, dentro do verão.
Roberto Solano