Até que os filhos os separem

Era uma vez um lindo casal de velhinhos. Sempre andavam de mãos dadas nos fins de tarde, admirando o pôr-do-sol e sorrindo um ao outro.

Era tão lindo o amor dos dois, que até eu, pobre mortal, desiludida e desacreditada do amor, tinha vontade de chorar de emoção, admirando tanto carinho.

Envelhecer ao lado do amor de nossa vida é realmente uma dádiva de Deus.

Ela começou a sofrer de depressão. Ele descobriu um câncer de próstata. Mas a doença não foi capaz de separá-los nem um minuto, um cuidava do outro, sempre de mãos dadas, sempre sorrindo.

Muitas vezes ela ficava impossível, difícil de lidar. A depressão a fazia sentir uma angústia no peito, uma vontade de gritar, uma “ruindade” como ela mesma definia em sua simplicidade. Ele nunca perdia a paciência, mesmo com sua própria doença e seu tratamento. Abraçava-a com carinho dizendo baixinho: - Calma minha querida, eu estou aqui, vai ficar tudo bem. E por um tempo realmente ficava. Mas logo depois as crises vinham mais fortes e ela perdia o controle de suas emoções.

Eles tinham 3 filhos aos quais sempre dedicaram muito amor. E estes filhos, também muito “amorosos e dedicados” pagavam uma enfermeira para cuidar do casal.

Até aí, tudo bem. Afinal, muitos pais que trabalham deixam seus filhos com as babás, (o que não foi o caso deles) ou em creches.

Acontece que a enfermeira pediu demissão. Passou em um concurso público em sua cidade, no interior do Paraná. Arrumou as malas e se foi.

Os filhos se reuniram e em comum acordo tomaram uma decisão. Não poderiam cuidar da mãe. Ela não se ajudava e ainda por cima estava prejudicando o tratamento do pai com suas crises de depressão. Era melhor interná-la. E assim fizeram.

Explicaram ao pai que era melhor para os dois, ela seria bem cuidada e ele poderia visitá-la quando quisesse.

Internaram a pobre senhora em um hospital psiquiátrico. Ele não podia visitá-la todo dia, não era permitido, normas do hospital. Ia prejudicar o tratamento da esposa. Era isso que ele queria? Não. Ele só queria estar ao lado dela, queria descobrir um jeito de passar um pouco da ruindade dela pra ele também, assim eles dividiriam a angústia e as dores, como sempre fizeram em tudo em suas vidas.

Então eu me pergunto: Como é possível os filhos separarem os pais justamente neste momento onde tudo o que eles precisam para se manterem saudáveis e vivos é um do outro? Não é justo, eles não têm esse direito. Às vezes eu acho que deveria existir uma lei para punir os filhos ingratos. Prisão perpétua.

O certo não seria eles ficarem juntos até o fim de suas vidas? Até que a morte os separe, como juraram diante de Deus?

Estou me sentindo triste, de luto. É como se algo tivesse morrido no ar. É como se o os bons sentimentos estivessem morrendo um pouco. Não o amor deste casal, que continua vivo até o fim, mas o amor das pessoas e o amor destes filhos que não souberam enxergar a grandeza e a importância do amor de seus pais.

Sabrina Massucheto
Enviado por Sabrina Massucheto em 16/01/2012
Código do texto: T3443426
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