ROMARIA DE ADEUS

De todas as cenas que a vida nos apresenta, nenhuma talvez inspire mais condolência que a romaria fúnebre dos que se despedem de um ente seu.

Cabisbaixos e chorosos seguem, mais pálidos que o próprio ser inerte e frio, no caminho interminável do último abrigo. Na jornada que corre sorumbática, são incontidas as lamentações de revolta à impiedosa e lúgubre fatal.

Peregrinando inconformados e sofridos há mães amorosas, jovens ou velhas, há pais enfraquecidos na fé, irmãos unidos na dor, filhos saudosos do materno conforto. Mas quem pode perscrutar realmente o que se passa no íntimo dos que se despedem daquele que partiu?.

À memória solitária de cada um, as imagens revividas do passado ilustram esse cenário de luto. Cada gesto, cada palavra, cada olhar trazido à lembrança são eternos e falam à alma saudosa como sereno sussurro, como o vento fala às folhas do cinamomo.

Ao cruzar os pórticos da morte, elevam-se os prantos inconformados, perfumados pelo odor das flores murchas e o fedor inconfundível da parafina acesa. Ecoam-se os murmúrios incontidos entre os mármores gélidos, brancos, mudos.

Enfim o esquife ao escuro e úmido sepulcro desce; consigo as dores, os lamentos e saudades. Vencidos, voltam-se as costas ao insofismável mistério dos séculos, que a ninguém poupa e a todos iguala.

Enfeita-se o entardecer eterno e breve ao rubro reflexo solar, enquanto a cantar, o pio doloso dos últimos pardais anuncia a noite precursora do alvorecer, imortal.