A silenciosa linguagem das rosas

Certa vez fui à lixeira com uma sacola na mão a fim de me desfazer de alguns pertences.

Já bem perto do local senti um cheiro diferente daquele que estava acostumada quando nos arredores da lixeira.

Abrindo a porta havia uma grande sacola no chão e dentro dela um buquê de rosas. Algumas já estavam mortas, outras quase. Mas, impressionantemente é que ainda havia algumas que lutavam por um fim digno.

Imaginei que ali naquela sacola poderia estar o brotinho da rosa do Pequeno Príncipe.

E mais, pensei que ela poderia se comunicar com as demais rosas, naquela linguagem silenciosa a qual só as rosas entendem e dizer:

- Vocês se rendem muito facilmente, eu não permitirei que meu fim seja aqui, nesse ambiente escuro e fétido. Lutarei com as armas que tenho e morrerei como uma verdadeira rosa!

Com isso, expliquei para mim mesma o odor exalado pelas quase- mortas e no sentido incomum da luta pela vida.

Por alguns instantes quase me esqueci que eu ainda estava com uma sacola de lixo na mão e que, pior, estava na lixeira do andar do prédio.

Desfiz-me da sacola de lixo e continuei olhando para aquele buquê deprimido.

Lembrei do meu aniversário de 15 anos.

Do jeito que podíamos, com o orçamento que economizamos, meu aniversário foi um deslumbre. Mamãe comprou muitas flores, de muitos tipos. Lembro que nos preparativos para a festa a lavanderia da nossa casa tinha o mesmo perfume que senti quando cheguei perto daquele buquê na lixeira.

E voltando, quis socorrer naquelas flores mortas o que estava morto em mim.

Como se salvando-as, eu pudesse resgatar o pouco das imagens divertidas que sobraram em mim.

Isso também deve ser um sopro de rosas. Elas devem  nos soprar sentimentos com essa mania silenciosa delas se comunicarem.

E tudo isso poderia encerrar assim:

E assim o fiz. Recolhi da sacola com o buquê, as rosas que ainda poderiam viver mais alguns dias. Cuidei para que elas nutrissem mais um pouco de esperança na vida, em cultivo à vida curta, mas bem vivida.

Mas, a verdade e que a história acabou assim:

Vi toda a luta das rosas, sei o quanto elas se esforçaram para me mostrar que é preciso lutar um pouco mais e que mesmo num lugar ruim, sem recursos, ainda resta um pouco de dignidade a se lutar.

Como isso não faz o menor sentido para mim, fechei a porta da lixeira, voltei para casa e fui dormir.

Ísis Almeida Esth
Enviado por Ísis Almeida Esth em 15/01/2012
Reeditado em 16/01/2012
Código do texto: T3442456
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