Caos no Trânsito e na Saúde = Morte*
 

 
       Numa cidade onde as mulheres precisam sair em direção a outras cidades para deixar vir ao mundo os seus bebês, em que recém-nascidos e adultos morrem entregues a própria (falta de) sorte a espera de uma vaga na UTI,  reclamar do trânsito pode parecer completa­mente irrelevante. Mesmo que esse trânsito esteja matando tanto quanto, ou mais, que as doenças.
 
       Mossoró cresceu e se  fez bonita nos últimos anos, não há como negar, mas precisa corrigir erros estruturais e o trânsito é um dos mais urgentes. 

        Praças foram construídas e/ou reformadas (e não foram nada baratas) para embelezar a metrópole do futuro (segundo a revista VEJA), mas o cidadão comum ainda não sentiu essa diferença em sua vida. Embora, muitas vezes diga sorrindo, que faz parte da história de uma das melhores cidades para se investir e morar, segundo dados da mesma revista. 

 
        O progresso e os investimentos vieram e estão fazendo bonito. Nossas avenidas, estão mais belas, nossas praças enchem os olhos, as lojas climatizadas (a grande maioria), mas, em contrapartida os hospitais estão sendo fechados, as UTI’s nenonatais ainda não foram criadas, não há maternidade suficiente para demanda, não há hospitais infantis. 
 
        Neste cenário, que parece filme de terror, o trânsito ajuda a aumentar o caos. O número de acidentes cresce vertiginosamente, concorrendo, infelizmente, com o número de mortes por outros tipos de violência (que também cresce assustadoramente). Durante meses (e até hoje) a imprensa e alguns políticos alertam as autoridades para estes problemas – gravíssimos por sinal.  Mas, os hospitais fechados continuam lá, como mo­numentos à nossa inca­pacidade de gerar soluções. Não houve sequer pudor de lhes dar outro destino. Eles estão ali, como provas de um criminoso desleixo. O cidadão comum paga, muitas vezes com a própria vida, esta conta.
 
        A morte destas pessoas, sejam vítimas da violência no trânsito ou por falta de estrutura na área da saúde, é, sobretudo, um sintoma de um relaxamento que atingiu Mossoró. As estatísticas, muitas vezes maquiada, é uma espécie de bandeira hasteada desse descaso. Não se trata, apenas, da falta de organização e planejamento do trânsito, da falta de estrutura na saúde, mas de um crescimento desorganizado, de sermos uma cidade polo sem estrutura para resolver seus próprios problemas.
 
        Não tardará Mossoró receberá outros investidores. Construiremos novas praças para a cida­de. Umas para embelezar nossos bairros, outras para maquilhar as olheiras de nosso cansaço pela espera de uma cidade onde o trânsito seja para facilitar o tráfego de  pessoas e do progresso, e não uma urbe que cresce em números de prédios e perde a capacidade de humanizar seus espaços urbanos. 
 
        A velocidade com que espaços estão sendo ocupados, logo transformará esta cidade – conhecida como a terra do sal, do petróleo e da liberdade, uma varanda para a cultura, berço de grandes figuras humanas -, em um grande espaço de concreto, sem sonhos ou beleza. Seus locais, cuja beleza advinda da paisagem humana, estão sendo sistematicamente ocupados pelo progresso financeiro. 
 
        Precisamos, urgentemente, lutar por uma Mossoró mais humana. Uma cidade em que os azulzinhos, responsáveis pelo trânsito, não fiquem  batendo papo indiferentes ao caos que se instala a sua frente, dirigindo de forma perigosa, andando três numa mesmo moto, ultrapassando sinais vermelhos, etc.. E esta não deve ser uma luta partidária, mas de todos nós, pais, educadores, gestores, enfim, dos que amam esta cidade.  
 
 
 
 
  1. Guardas municipais de trânsito.
 
 

  
*Crônica publicada no Caderno Expressão da Gazeta do Oeste deste domingo.

N.A.: Meu neto nasceu dia 12/01/2012.Como sabíamos do caos instalado aqui em Mossoró, minha nora foi ter seu bebê em Caraúbas, mas na hora do nascimento surgiu uma complicação e ela precisou ser cirurgiada, como a sala de cirurgia do hospital estava interditada ela foi transferida para Almino-Afonso e foi lá, na terra de mamãe, que nasceu meu primeiro neto. Graças à Deus, apesar do sufoco, terminou tudo em paz.

Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 15/01/2012
Reeditado em 31/03/2013
Código do texto: T3441947
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