Afinidade
De repente, descubro em mim que tudo que faço na vida vem de alguma forma do amor. Parece que o amor é o ingrediente que não pode faltar na vida. Ele assume mil formas. Posso afirmar que até para chupar um picolé temos que ter amor. A sua falta desagrega tudo, corrompe, desorganiza, cria lutas, inimizades, cria a treva e, finalmente, o caos.
E foi essa constatação que me fez neste mês de janeiro falar tanto de amor, em forma de versos, que atingem mais diretamente a sensibilidade das pessoas.
Mas confesso que vinha me incomodando com isso, pois estava sentindo falta do meu vício de escrever crônicas.
Retorno a elas para falar da afinidade, que não é amor, tranquilizo logo o meu amigo Ciro, que também vinha sentindo falta das minhas prosas.
Afinidade não é amor, mas pode correr junto com ele. Afinidade é um sentimento mais duradouro, em razão das visões semelhantes de duas pessoas. E não só semelhança de pontos de vista, mas também e, principalmente, das tempestades, dos desastres, assim como dos momentos felizes serem muito semelhantes entre duas pessoas. Por isso elas são afins e sempre que se encontrarem terão a mesma alegria por terem tido o mesmo tipo de vida e olharem para os acontecimentos da mesma maneira.
É alegria imensa encontrar na vida um afim, com seus espantos, com seus olhares sobre a vida, seus costumes, seus gostos tão semelhantes ao nosso. Esse encontro, infelizmente é raro. É como encontrar um trevo de quatro folhas. Penso que está aí a razão para encontrarmos mais infelicidade entre os casais do que felicidade.
Dizem que os opostos se atraem. Assim, é verdade que vemos casais , cujo marido é o oposto da mulher, ou vice-versa, vivendo muito bem, um entendendo o outro, aceitando a maneira de ser do parceiro. Mas desconfio que um acaba cedendo espaço para o outro, anulando-se para que a união dê certo. O que não me parece legal.
Os casais, que podem ser casados ou não, que realmente dão certo são aqueles que possuem a afinidade aqui comentada. A relação se torna mais fácil, mas simples e ela será sempre prazerosa. Na minha experiência foi o que sempre vi. Importante é dizer que todas as nossas análises são, logicamente, bem subjetivas. Todos nós falamos das nossas experiências. Objetividade, acho que só na matemática. O fenômeno humano é incrivelmente complexo e muito subjetivo, o que provoca as maiores polêmicas.
E devo confessar aos meus amigos e amigas que sempre fiquei muito admirado com esses casais, raros, é verdade, realmente felizes quase o tempo todo.
Entre os artistas de televisão e teatro existe um exemplo de casal feliz. Paulo Goulart e Nicette Bruno formam um casal realizado e feliz, o que me deixa profundamente intrigado. Tão intrigado, que tenho que repetir o que nós cariocas, com nossa índole brincalhona, costumamos dizer e ouvi do Diretor e ator Abujamra, outro dia na televisão:
“É um casal insuportavelmente feliz!”