Ai que vontade de dar umas palmadas

 

 

Perto de um restaurante, até lá pelas três da tarde, fica todos os dias um rapaz ‘guardando’ os carros dos clientes que por ali estacionam e lhe dão uns trocados. De aparência forte e saudável, corre de um lado para outro, poderia muito bem trabalhar de verdade em outra coisa qualquer. Mas assim é mais fácil, não é mesmo? As pessoas acabam coagidas, se não pagarem, sabe-se lá o que pode acontecer... Assim como ele, em vários pontos da cidade, (qualquer cidade brasileira), outros ‘prestam seus serviços’ sem jamais ser incomodados pelos agentes da ordem. E de uns dias para cá, percebi que ele arranjou um ajudante: um menino de seus dez anos, no máximo. Nada miserável. Bem vestidinho, calçando tênis, com o penteado arrepiado da moda. De tempos em tempos o pequeno vai até o outro e lhe entrega um punhado de moedas, que o grande recebe desconfiado, revistando-lhe os bolsos... Acho que a parte dele fica guardada no canto de fora da janela da padaria onde costumo tomar café, meu ponto de observação.

 

Olhando a cena, me pergunto por que hoje em dia eu, como mãe, seria castigada se precisasse dar uma palmadinha no meu filho para ensiná-lo a andar na linha, a ser correto, gente de bem? Enquanto o Estado se ocupa disto, (os excessos, evidentemente, já estavam previstos em leis), o garoto ‘de menor’, bem menor, transita numa boa na escola da malandragem, à luz do dia. Sem que nenhuma autoridade se preocupe com ele...

 

 

 

(Minha ‘vontade de dar palmadas’ é simbólica, quer dizer: me dá uma raiva...)