DIZEM ISSO, DIZEM AQUILO...

DIZEM ISSO, DIZEM AQUILO...

"Saque, agora, na Amazônia

tem nome de "PLEBISCITO".

Forasteiros chegam aqui

e ganham tudo "no grito" (...)

(trecho do cordel "PARÁ! DIVIDIR?!

PRA QUE?!", de João de Castro,

Edição do Autor, Belém, PA, 2011)

"Mexer com lixo" pode até ser deprimente às vezes, mas um dia ou outro traz compensações. Se encontramos livros absolutamente novos, sequer lidos, entre a imundície e restos de alimentos, nos cai nas mãos volumes surpreendentes. Guardo com carinho uma edição comentada de "Os Lusíadas", de 1958, meio despedaçada, uma biografia rara de Oscar Wilde dos anos 60 e um livro de Matemática colegial de... 1947.

Recentemente me veio o gracioso "cordel" de João de Castro, folclórica figura quase polêmica dos "arraiais da Cultura" belemita (ou belemense), que conheci pessoalmente por volta de 1987/88. Declamando, João de Castro consegue "camulflar" os tropeços de métrica de sua obra de repentista. Infelizmente, no papel impresso é impossível ignorar o "caminhão" de versos de "pé quebrado" -- com menos OU MAIS de 7 sílabas poéticas -- que se aloja em seus escritos. Não vejo isso como um desrespeito às tradições do Cordel, mas nem por isso posso deixar de criticar esse "senão" de suas produções.

O que me motiva analisar n o livreto dele é um outro aspecto: as citações que envolvem a presença de FORASTERIOS (?!) -- êle próprio é natural de Pernambuco -- nas terras de Santa Maria de Belém do Grão-Pará... que, segundo êle, "saqueiam tudo em pleno dia / e com o aval dos "políticos", etc e tal. Numa estrofe anterior vai além:

Eita Pará PaiDégua!...

Parece Casa de Ninguém

Aventureiros vem de fora

Dão as regras e dizem amém

Implantam, provocam desmandos

com a autorização de quem?!...

(OBS.: transcrito como está no original)

Na página 14, ao citar que "quem ganha tudo com isso / senão o "Político Vilão"... traz abaixo da estrofe "capenga" os nomes/cidades/Estados de nascença de 5 políticos, tidos até há pouco tempo como baluartes do Pará. Gôsto, religião e futebol não se discute... não sei em que mês de 2011 o livreto de João de Castro foi publicado, mas êle (a obra) corre o risco de infligir a novíssima Lei 7.567, promulgada pelo presidente insípido daquela "assembléia" de "inocentes", de "ex-fichas sujas" e de espertalhões de vários matizes.

Que Lei é essa?! A que proíbe (desde 27/out. 2011) NO PARÁ a discriminação em virtude de raça, SEXO, côr, idade, religião, orientação sexual OU QUAISQUER OUTRAS FORMAS, (inclusive as escritas, televisadas, radiofonizadas, gravadas)... ou seja, nessa "democracia cubana" que vigora no Brasil absolutamente TUDO ESTÁ PROIBIDO, até mesmo charges, músicas, piadas, desenhos, sonhos e até pensamentos.

A Lei é tão extensa que prevê "ato ou omissão (alô, dona CELPA!) que caracterize constrangimento, exposição à situação vexatória, tratamento diferenciado (alô, dona CELPA!), cobrança de valores ADICIONAIS (alô, dona CELPA!) ou preterimento no atendimento, entre dúzia e meia de outras situações.

As "empresas" que têm um CAC ou SAC destinado apenas a "enrolar" e "cozinhar" seus clientes, que se acautelem. Essa prática está no limite da discriminação, prevista no 2º artigo da Lei... "impedir ou DIFICULTAR o atendimento a usuário (alô, dona CELPA!), cliente ou comprador," etc. O alerta foi dado!

Comecei o Ano Novo com uma dose cavalar e ensurdecedora de "technobrega" na casa vizinha, quase 20 horas de mesmice sonora, gravada em CD ou pendrive que repete, num "looping" enlouquecedor os mesmos sons, berrados a cada 3 ou 4 horas. Estou há quase 30 ANOS no Pará, mas não consegui me acostumar com essa "moda" dos bailes locais.

O locutor/DJ não toca uma só música INTEIRA... interrompe a cada 40 segundos para mensagens (e bobagens) desnecessárias, abraços, recados, incentivos (?!) à platéia -- se é que essa existe mesmo! -- telefone desse ou daquele, elogios à própria aparelhagem e às alheias, autopromoção a cada minuto e meio E MAIS, muito mais, muito mais mesmo.

Pois bem, a mais "nova" gravação desse tipo AGRIDE vários parágrafos da recente Lei 7.567, principalmente onde ela reza que É PROIBIDO "praticar, induzir ou incitar -- pelos meios de comunicação social ou por publicação DE QUALQUER NATUREZA (OBS minha: onde se incluem os CDs e livretos, etc) -- a discriminação e o preconceito. Na citada gravação (suponho que) "ao vivo" o tal locutor, já consagrado, dá vivas ao fato de o Pará não ter sido dividido, faz seu "discurso" ufanista e termina com um sonoro "Quem fôr PARAENSE levante o braço!".

É pouco... manda "viados" e "cornos" levantarem o bracinho", "agora, só quem gosta de mulher" e vai pulando de preconceito em preconceito.

Não sei se é o caso de recolher a tal gravação... creio que o MP e a Justiça terão que acompanhar, a partir de agora, essas e outras manifestações bairristas e até o discurso oficial terá que se policiar (epa!) para não cometer escorregadelas ou, pior, discriminar.

Vejo/ouço pelas TVs locais, a toda hora, a expressão PARAENSES sendo usada, com muito pouca consideração com uma razoável parcela da população que não nasceu aqui e nem comunga desse ufanismo exacerbado.

"Tratar com desigualdade aos iguais -- já dizia Rui Barbosa em 1800 e tal -- É DESIGUALDADE FLAGRANTE e não igualdade real". Programas de Rádio e de TV, além dos discursos (de) políticos, SÃO PARA TODOS... e não apenas para quem nasceu na região. Pensem nisso!

CINCINATO PALMAS AZEVEDO

(ANANINDEUA, Pará, BRASIL)