Perfeição no detalhe. Imperfeição no todo.

Há dois erros comuns. Achar que a perfeição não existe ou esperar que ela dure para sempre como nos finais felizes dos contos de fadas.

Perfeição é muito possível – só que nos detalhes. Na fração de um dia, de uma pessoa, de um acontecimento. Ela se manifesta no verso de um poema, no segundo de um minuto, no abraço e no beijo e no presente recebido exatamente como e quando você desejava. São os repentes que nos fazem pensar “Uau!”. Mas é tão somente parte de um inteiro, e, portanto, se esvai.

O resto, quer dizer, o todo, é imperfeito. Cheio de qualidades boas e ruins, a dança de erros e acertos que o universo põe no nosso caminho. E, por ser assim, tão não impecável, requer de nós trabalho, o esforço para que não desande de vez. Exige que a gente faça questão das partes positivas!

Porque tem defeitos, é natural que a vida – e as pessoas do nosso cotidiano – nos convidem a uma batalha da boa interação, já que somos nós, também, incorrigivelmente imperfeitos. É desta forma que se constituem os grandes desafios, aventuras de altos e baixos, irritantes e maravilhosas. Uma bagunça sem a qual o mundo seria tédio e nenhuma perfeição teria valor.

Esses instantes perecíveis em que o kosmos inteiro conspira a seu favor existem para renovar seu fôlego. Lembrar-nos que mesmo quando está difícil demais, e seguir em frente parece inviável, vale a pena dar o passo adiante. Apenas os muito distraídos perdem de vista esses avisos do universo. Ou os interpretam errado.

Um ser desavisado passa pelo breve instante perfeito em que a mulher dos seus sonhos lhe sorri; uma viagem incrível lhe é proposta; quando ele abre a porta do primeiro carro zero que comprou na vida. No entanto, permite que o encanto morra assim que percebe que a mulher tem o dedo torto ou não gosta de sorvete; descobre que viajar requer, antes, lidar com um monte de papelada; vê que gasolina custa caro.

Gente desavisada deixa que a paixão esfrie, que o entusiasmo morra, que a alegria se contamine diante dos empecilhos. Não fazem questão. Por isso, desistem de lutar na mesma hora em que as imperfeições afora começam as mostrar seus traços e ignoram que eles também testam o mundo constantemente com os defeitos que carregam no próprio peito.

São pessoas que esperam do universo mais do que ele é capaz de gerar. Querem príncipes encantados, sombra e água fresca, 100% de maravilhas, almejam o que vem de mão beijada. Só aceitam a perfeição se ela vier no todo. E, assim, desavisadamente, passam pela vida em branco, perdem tudo... até as breves, perfeitas, incríveis surpresas que preenchem a alma de instantes que tão facilmente podem se tornar eternos na lembrança de quem sabe dar valor.