Coçar e babar é só começar
Atribui-se a Capistrano de Abreu, o genial historiador cabeça-chata, a sugestão de uma Constituição minimalista para o Brasil. Na visão do ilustre cidadão de Maranguape, nossa Carta Magna teria um único artigo, revogando-se todas as disposições em contrário: " É preciso ter vergonha na cara."
Fui educado sob a égide dessa assertiva e, transgredí-la, era um perigo muito grande, pois senão o pau comia solto. E enquanto a vara de marmelo cantava, o velho pai dizia: " Respeito não é subsserviência". De alguma maneira isso incorporou-se ao meu genoma de uma forma definitiva. Assim, cresci com a certeza de que o homem de verdade nunca é servil, embora soubesse que a humildade não faz mal a ninguém. O homem de verdade também despreza a arrogância e a prepotência.
Apenas um tipo de homem não tem vergonha na cara: o baba-ovo. A falta de caráter é que o torna desprezível. E não tem carinho nem pela pobre mãe, que é sempre lembrada de maneira pouco lisonjeira sempre que alguém se refere a ele.
A única diferença entre o bajulador e o cãozinho adestrado, é que o primeiro morde. E é curioso como o faz, posto que não morde com a própria boca. Ele não tem coragem, verbete que não existe em seu dicionário particular. O bajulador é capaz de dar o próprio rabo para proteger as pregas do seu dono. Ele é uma espécie de multi-homem dos desenhos animados dos meus tempos de criança. A única diferença é que, ao contrário do herói, ele nunca está do lado da justiça, mas da obediência cega.
Aldo Guerra
Rio das Ostras, 2012.