O IPÊ AMARELO

Ipê-Amarelo é um nome muito sugestivo. Às vezes é atribuído a algum empreendimento, como fazenda, comércio e indústria, bem como, ruas, avenidas e até mesmo a bairros populares ou nobres das cidades brasileiras. Porém, trata-se de uma madeira de lei, típica de nossa região, tem um grande valor real e é bastante procurada pelo consumidor. Apesar de ter grande preferência no mercado, os órgãos ambientais, vêm tentando coibir sua extração de forma predadora, a fim de preservar sua existência, hoje já não muito comum na floresta tropical.

Quando eu era menino, morando no interior do Estado, juntamente com minha família, meu pai era um modesto carpinteiro, e o Ipê era a madeira preferida para a execução de seus trabalhos. Nós o conhecíamos como “pau-d’arco”. Existiam vários nomes, o pau-d’arco-amarelo, o pau-d’arco-roxo, pau-d’arco-carpinteiro, (esse o era preferido dos carpinteiros, por ser uma madeira melhor de se trabalhar), e existia até mesmo, um tal de pau-d’arco “dente-do-cão”. Esse, apesar de ser da família dos paus-d’arco, era o pior de todos, ninguém gostaria de com ele trabalhar, por tratar de uma madeira muito dura para cortá-la a machado e para serrá-la, geralmente a ferramenta ficava inutilizada na execução do trabalho e isso contribuía para um elevado índice de rejeição.

Quando iniciou o ciclo da madeira em nossa região, onde o produto era abundante, nenhuma serraria aceitava o tal “dente-do-cão”. Um certo cidadão, empolgado com a atividade de extração da madeira, arrumou umas economias e adquiriu um caminhão para “puxar” madeira; em sua primeira viagem, trouxe justamente do Ipê ou pau-d’arco “dente-do-cão”. Ninguém quis comprá-la, apesar de ter andado com aquela carga em quase todas as serrarias, com isso, desistiu da atividade. Posteriormente fez o seguinte comentário com um amigo seu: “eu não tive sorte com esse tipo de atividade, a primeira carrada de madeira que eu trouxe foi de um tal Ipê” dente-do-satanás” e ninguém quis comprá-lo”.

No início da década de 70 decidimos forrar o prédio de uma comunidade – um pequeno templo evangélico – onde se congregavam pessoas humildes e, como havia ali um dos membros da Igreja, que trabalhava numa serraria, sugeriu que o templo fosse forrado de Ipê. Todos se interessaram em adquirir o produto e começaram a fazer suas contribuições.

Compramos a madeira, e a serraria nos enviou o primeiro lote – lembro-me muito bem –, era uma quarta-feira, já à noite, quando um dos colaboradores chegou à minha casa, acompanhado de outras pessoas e demonstrando um elevado índice de insatisfação disse:

-Fomos enganados pela serraria.

-Enganados como? perguntei-lhe.

-Nós compramos forro de Ipê e a serraria, nos mandou forro de pau-d’arco.

Foi uma atitude muito engraçada, principalmente quando descobriram que o Ipê é o mesmo pau-d’arco. Na verdade, ninguém – com exceção do rapaz que trabalhava na serraria - conhecia o Ipê, porém todos conheciam, de fato, o pau-d’arco.

Em nossas viagens que fazíamos diariamente para a cidade de Açailândia, onde trabalhamos, onde trabalhos por mais de treze anos, a cada manhã serena durante os meses de julho e agosto, nossa atenção era voltada, em alguns momentos, à existência, nas fazendas localizadas às margens da estrada, para certas árvores, que embora não possuíssem uma só folha, no entanto, estavam repletas de flores amarelas, um tipo de amarelo muito bonito, semelhante aquela cor amarela da Bandeira Brasileira. Nós, particularmente, embora tenhamos vivido a nossa vida de criança e até mesmo à adolescência, no interior, não sabemos definir e muito menos identificar qualquer tipo de árvore, principalmente aquela distância, onde as tais se encontravam da estrada por onde trafegávamos o que nos levou a indagar (que árvores eram aquelas), as pessoas que, conosco costumeiramente, faziam também aquela trajetória, as quais no respondia que tais árvores eram Ipê-Amarelo”.

O Ipê-Amarelo, pouca gente o conhece. Aliás, quem não tem convivência com o interior, com a floresta, ou não tem formação acadêmica ou mesmo técnica na área florestal, também não conhece. Porém, o que nos chama atenção é a época que essa madeira flora, ou seja, a época mais quente do ano.

Durante o período invernoso, quando todas as árvores estão enfolhadas, o Ipê-Amarelo, também está. A chuva vem para todas as árvores, logo o Ipê-Amarelo, também é beneficiado. Durante o verão, com a ausência das chuvas, principalmente nos meses de julho e agosto, onde para nós, são os meses mais quentes do ano, e o sol parece ser mais causticante, todas as árvores lá estão, enfrentando as provas, o calor e o próprio fogo, muito comum nessa época do ano, mas quem flora é o Ipê-Amarelo, mostrando que o calor não lhe intimida, resiste todas as provas e floresce. Notando bem, não se vê folhas no Ipê-Amarelo nessa época, todavia, suas flores são belas, atraentes e encantadoras, uma manifestação real da absoluta presença de Deus, confirmada e retratada pelo Ipê-Amarelo.

Luís Gonçalves
Enviado por Luís Gonçalves em 11/01/2012
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