NO ÕNIBUS
NO ÔNIBUS...
Era uma manhã quente, manhã de segunda-feira. Trânsito louco, apitos dos guardas, o ônibus superlotado fazia-me ficar emburrada e desesperada, eu não tinha como passar na borboleta. E agora? Foi com trancos e barrancos que atravessei o outro lado. Mas já chegava minha parada, e nada, nadinha, ninguém se mexia. Alguém tossia e somente fazia eu me preocupar com a gripe A... Quem seria aquela que tentou me desafiar com o olhar quando eu coloquei o pé na frente para ir mais adiante? Ao tentar dar um passo a frente, percebi que nem conseguia virar meu pescoço, de repente raiou uma esperança, alguém sinalizou... Uma parada à vista! Eu nem estava mais me importando com o lugar em que eu iria descer, afinal já tinha passado mesmo da minha desejada parada... Há muito tempo ela tinha ficado para trás. O que eu queria naquele momento, era um espaço para poder respirar melhor. Com a pouca estatura que tinha o que consegui foi ver as pernas de uma pessoa que desceu do coletivo e muitos ficaram logo visando o seu lugar. Nessa hora eu desejei que eles olhassem para o meu rosto cansado e deduzissem minha idade. Talvez me dessem a oportunidade de sentar-me, achei por bem tossir, e nesse momento o inconveniente motorista freou bruscamente e eu, nem mesmo assim, consegui sair do meu lugar... Como eu queria que isso tivesse acontecido! Mas eu ainda estava ali, parada, inerte, ainda em pé, escutando o reclamar das pessoas, os palavrões de passageiros por estarem atrasados se vingavam no nefasto motorista.
O barulho enjoado da catraca e as reclamações do cobrador insistia para que os passageiros fossem mais para frente, mas não adiantou. Durante muito tempo o ônibus permaneceu parado e eu também permanecia estagnada, incapaz de mover-me, estava cansada e passando mal. Foi horrível aquela situação, pois minha sentença foi uma das maiores, fiquei presa ali até todos descerem e eu pude ter o gostinho de usufruir de uma cadeira vazia somente no ponto final.