O gato de Calvino
Os meus leitores, acostumados às minhas observações de sempre, talvez estranhem em princípio o tema que por hora abordo. Mas, é que por se tratar de um gato de estimação, registro aqui que psicologicamente encontro-me arrasado.
Guduguinho (meu gato, na foto), ao que tudo indica que morreu em 31 de dezembro de 2011, às 20:00 hs. A causa mortis, não procurei saber, mas os bichanos sempre são vítimas de algum veneno colocado pelos que não gostam de gatos ou cachorros, mas que certamente não gostam de si mesmos. Um crime onde é difícil de flagrar os envenenadores, quase sempre comerciantes ou moradores, alegam ter tido a intenção de matar os ratos (esse último, uma peste, tudo bem).
A fiscalização pelos órgãos públicos no Brasil é muito deficiente. Cadê o Programa de Proteção aos Animais Domésticos? Antes que me perguntem se Gudugo era perturbador, negativo, eu digo que não, que ele não incomodava ninguém, que não sei como foi isso, e que é revoltante, num país sem leis!
Parece que o vejo, comendo ração com o seu colega Branco, seu vizinho. Lembro que, como era véspera de ano novo, logo cedo, isto é, 19:00 hs mais ou menos, as pessoas começaram a soltar fogos diversos de artifícios e bombas de grande porte.
Gudugo começou a correr assustado e Branco, sempre o acompanhando, dava toda a assistência ao coleguinha. Numa dessas correrias, Guduguinho desapareceu, deixando-me preocupado com a sua ausência. Senti um odor muito forte e vi fezes cor cinza espalhadas pelo chão. Branco permaneceu até o outro dia no terraço, como se estivesse em prontidão, esperando a volta do seu colega.
- Branco, cadê Gudugo? – perguntei.
-...
Assim, já passava da meia noite, muitos fogos e nada de Gudugo. Fiz uma ligeira faxina, diminuindo aquele odor estranho. Então, resolvi dormir para no outro dia ter a volta do Gudugo. Corri para cama, me esparramei, e nada de conseguir dormir. Na ante-véspera e no sábado estive divulgando os meus livros “Fiteiro Cultural” e o teatro “O Cristo Mulato” ( já nas livrarias: POTY LIVROS / LIVRARIA CULTURA RECIFE), ambos editados e reeditados no ano passado. Divulgação esta, para não dizer vendas, para não entrar no novo ano sem compromisso com venda de livros. Embora morto de cansaço, tudo indicava que estava num processo de esgotamento, estressado, pois na sexta-feira eu fora do Pina até Boa Viagem pela praia e, no sábado vice versa de Boa Viagem ao Pina. Como eu poderia dormir bem, com as festividades de virada do ano, fogos e zoadas da meninada (agora é assim!).
Acormeci com o livro que não consegui ler. No domingo, primeiro de janeiro, no jardim, senti o mesmo odor que sentira na noite anterior. Aí constatei: Gudugo estava morto. Tentei telefonar para a URB, mas não existe nada mais inútil do que os disque-qualquer-coisa do serviço público e, se for para fazer denúncias contra órgãos públicos, a ligação não dá sinal de ocupado, mas difícil é alguém atender. Isso mexe com os nervos! Ainda bem, não muito longe estava o carroceiro “Papudinho”, da reciclagem que outrora trabalhava no caminhão da limpeza urbana. Ele foi solícito e providenciou o sepultamento.
Segunda feira, dois de janeiro, conversando com alguns colegas, uma delas com gozação perguntou se o sepultamento fora no cemitério de Santo Amaro. Respondi tranquilamente que os governos estadual e municipal deveriam investir na saúde dos animais. Existe um Programa Estadual de Desburocratização do Governo Federal do Estado. Quando se lê: “Vamos agilizar e simplificar o atendimento ao cidadão”, se vê que, na prática, alguns setores não tratam, principalmente os pobres, como pessoas cívicas. É inexistente o tratamento digno aos cidadãos, quiçá aos animais! E cantei para a dita senhora o “Atirei o pau no gato”:
Atirei o pau no gato- to
Mas o gato- to
Não morreu-reu-reu
Dona Chica-cá
Admirou-se-sê
Do berro, do berro que o gato deu:
Miauuu!