Eucaliptos e abobreiras
Mesmo sem licença e contando com sua compreensão, tomo emprestada uma reflexão que Padre Marino van de Ven, de Miradouro (MG), fez em texto que mandou imprimir num calendário de 2004. Fiquei encantado com ensinamento tão simples e, ao mesmo tempo, tão rico de sabedoria. Diz ele que existem em nossas comunidades pessoas que são eucaliptos e pessoas que são abobreiras.
O eucalipto fica comprido, cresce bem alto, aparece demais. Mas não dá fruto nenhum. Gasta toda a seiva para sustentar a própria vaidade, para manter a pose. Seca todo o terreno ao seu redor. Para ele só existe ele mesmo. Ninguém pode crescer ao seu lado.
A abobreira, ao contrário, não tem o menor interesse de aparecer. Não se preocupa com defender a aparência de importante. Por isso toda a sua seiva vira fruto. A terra coberta por ela conserva a fecundidade. Ela a protege, conservando-lhe o frescor e garantindo sua capacidade de gerar vida. Devolve ao solo mais do que retira.
Impressionou-me a justeza da comparação. É difícil alguém pôr em tão poucas palavras tanta verdade e exatidão. Basta olhar em volta para confirmar.
Não é certo que há por aí muitos eucaliptos, gente que não dá sombra de jeito nenhum? Fruto, então, nem pensar. Vivem unicamente para si. Parecem crer que Deus criou o universo em função deles. Alguns até se mostram zelosos, trabalham, participam dos eventos da comunidade. Mas apenas quando podem fazer de si mesmos o centro de tudo. Não servem à comunidade, servem-se dela. Estão presentes enquanto são considerados como o polo para o qual convergem todas as atenções. Para brilhar como estrela única, sem concorrência, não precisa ninguém melhor. Tratou, porém, de se colocar a serviço, de se abrir à partilha com os irmãos, de ser um entre muitos, de trabalhar em equipe, aí..., pode esquecer.
Pessoas-eucalipto constituem um problema. Não admitem que ninguém se desenvolva ao seu lado. Nada produzem para a comunidade. Brilham, chamam a atenção, mas são completamente estéreis.
Bem outro é o comportamento das pessoas-abobreira. Não estão nem aí para o que pensam ou dizem a seu respeito. Têm o olhar e o coração voltados para o bem de todos. Só visam o crescimento da vida comum. Raramente se lembram de que existe a palavrinha “eu”. Quase nunca a empregam. Vivem em função de outra: a chamada “nós”. Entendem que o bem comum está acima do individual. São donas de um coração largo, onde não cabem mesquinhez nem egoísmo. Não guardam mágoas. Não cultivam ressentimentos. Passam por cima de decepções, de ofensas ou de ciúmes, sem perder o entusiasmo nem cair no desânimo. Não ameaçam, como crianças mimadas, abandonar tudo quando ouvem um “não” às suas pretensões e caprichos. Revelam a maturidade e a grandeza interior das grandes almas. De quem sabe que a vida vale pelo bem que conseguimos criar à nossa volta. Não pelos confetes que, desesperadamente, os tolos vivem buscando a todo custo.