O Renascimento da Águia
Era um sonho, sonho de menina assustada, desamparada e perdida no escuro da noite enevoada.
Deslizava velozmente sob vales frios e molhados, percorrendo caminhos há muito esquecidos e espinhosos, o suor banhava sua testa, o medo paralisava suas pernas, o coração batia descompassadamente junto ao vento gélido que sussurrava em seus poros enquanto seus pés tocavam espinhos.
Caminhou, tropeçou entre os vales sombrios, já não conseguia mais gritar, sua face pálida era encoberta pelos cabelos úmidos de medo e os lábios trêmulos sussurravam falsetes talhados pelo urrar do vento.
Inclinada frente ao poderoso lago negro, seu reflexo transparecia toda sua frágil inocência, imersa no grande labirinto sombrio de paredes rochosas.
Diante da face amedrontada, de súbito reconheceu-se, sua alma se chocava com seus mares mais profundos, seu corpo se iluminava e reagia, seus olhos sedentos de luz reconhecia o inerte vale sombrio como o espelho de sua mente aprisionada.
Os olhos de menina transcendiam a forma original, para fortes e profundos olhos de águia que presenciava em seu reflexo a rocha sólida que percorreu caminhos tortuosos em busca de seu verdadeiro eu.
Assim cessaram seus passos inseguros para alcançar vôo e seus lábios trêmulos encontraram enfim o alivio frêmito de um sorriso.
E seu coração? Esse por fim selou a união de paz com sua alma, que hoje é livre e segura de si.
Com olhos atentos de águia percorre seu caminho enfrentando tantos mais vales sombrios, com a sabedoria de que é preciso morrer muitas vezes em uma só vida, para poder voltar ainda mais forte. Construiu sua fortaleza com muito ainda a percorrer.
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